As estrelas dormiam do lado de fora da janela. Um cometa riscava o céu e, logo se imaginavam os desejos caindo na terra e aportando no cais dos afetos. Afetos amarrados feito navios, afetos embrulhados para presentes, o silêncio que duelava com a cigarra e, a lua majestosa reinando sozinha. Absoluta. Na solitude da choupana, a simetria parece uma ode ao sagrado, e a pouca luz nos sugeria espiritualidade e redenção. Estava cansada, exausta mesmo... Mas, tinha conseguido fazer tudo... de forma célere e escorreita. Aos mortos dedicamos saudades e flores. E, aos vivos, tolerância e espinhos. É duro estar de luto. É duro saber que morrer é única certeza que temos... todas as outras são abstratas e intocáveis. Separei para minhas exéquias um terno marrom que adoro... porém, percebi entristecida que não cabe mais em mim... Lá se foi meu projeto de elegância post mortem... Talvez, tivesse que me contentar com o morim. A finesse do algodão quase tela sobre o corpo já moribundo. As estrelas dormiam cerimoniosamente, no azul escuro do céu. E, brincavam em construir imagens e prover a ciranda de constelações. O zumbido dos insetos parecia melódico, ou era meu lirismo patológico atacando minha alma ao relento. Dores são mestres exigentes. Sofrimentos também... Mas, deve haver alguma lógica nisso tudo. Em perder, em ganhar, em estar de luto e, até, sentir saudades de tanta coisa que não mais reconhecemos o presente. Talvez, pudéssemos superar a perda, transcender o momento, e depois, com as feridas cicatrizadas partir para novas lutas. Essas sempre se renovam... duelar com o destino e, na busca da liberdade... Será que alguém é livre? Ou apenas finge ser? Teremos esses questionamentos cravados no peito e, com a morte, tudo é respondido com silêncio. No fim, tudo é silêncio. O resto é silêncio. Semântico, semiótico e significante.