Se você olha por muito tempo para um abismo, o abismo olha de volta. Há velhos questionamentos que se renovam, trocam de roupagem mas permanecem intactos. O enigma sobre o abismo e o eterno retorno demonstra a extensão da existência humana dentro da teia de paradoxo e monções de lágrimas. O filósofo Nietzsche não apenas menciona "olhar para dentro do abismo", mas olhar demoradamente para dentro do abismo, tempo suficiente para que os sentidos sejam capazes de identificar e referenciar o nada.
A busca do referencial externo, os contornos do abismo, para saber o que habita em nosso interior, e não são coisas conscientes, nem as que estão disponíveis e arquivadas na memória, nem aquelas das quais nem suspeitamos da presença maior, mas daquilo que as antecede, não uma linguagem, ou dialética, mas uma certa harmonia com o não ser.
Ao nos depararmos com o nada, com o rompimento da gestalt, nossas percepções se dão conta que não temos a figura e, o contexto nos engole, e por vezes, deglute, e se apossa de nosso entorno e, invade até a alma. Enfim, a consciência é o estrangulamento de um único abismo.
"Aquele que luta com demônios ou monstros, deve acautelar-se para não tornar-se um também". Um fato é que lutamos contra monstros que se desumanizaram, num processo longo e doloroso. Se não fossem desumanizados, talvez, não reagissem desta forma, nem oferecessem tanto perigo... Em verdade, vivemos entre monstros e abismos e, o tênue equilíbrio entre estes, fabricam, laboriosamente, a consciência e edificam a sobrevivência.