Por entre as janelas entreabertas espiava o movimento da rua, especialmente, ao som de disparos de tiros. E, ainda havia a persiana lilás, a fatiar a realidade e, também evitar que o sol impiedoso nos acordassem. O preço da liberdade é a eterna vigilância. Vivíamos na dialética do medo, a violência urbana, a criminalidade, a contundência da bipolaridade ideológica e tirania do politicamente correto. Em pensar que desse lado, pode-se ver, enxergar, porém, restamos apassivados e inertes. Nem a consciência ou silêncio ousaram ir além das frestas da janela. A verdade fissurada procurava o consenso e, uma conciliação mítica, pois a narrativa sobrenatural só nos conformaria de algum modo. Meu Deus! Agora se aproxima mais uma tempestade com suas pesadas nuvens que iriam lavar, inundar e arrastar almas, terras, pedras e pessoas. As enxurradas de março produziram vítimas e vaticínios. A natureza sempre uma grande mestra dos homens, seja física ou psiquíca. Aqui da janela, a tragédia parece ter seu ritmo e existência própria. Talvez digerir uma parte da realidade, aos poucos, nos ajude a ter alguma maturidade e, enfrentar os medos, as violências e, finalmente, sobreviver. Quanto a liberdade vigiada? É melhor viver, sinceramente, encerrada no catre do que fingir que é livre. Daqui em meu secreto observatório, presencio os ciclos a se repetirem e, a semântica fracionada que nos leva a entender a humanidade homeopaticamente.