Todos são príncipes.
Todas são princesas.
portadoras de relicários
e de uma finesse inacessível.
São elegantes, bonitas e inteligentes.
E, eu que não tenho paciência
para escovar os cabelos.
Eu que passo batom, por vezes,
fora da boca...
Talvez quisesse pintar as palavras
com o vermelho reluzente...
Talvez...
Eu que não tenho paciência
para as vaidades pueris.
Até considero-me asseada
Tomo religiosos três banhos diários.
Mas, sou alérgica a perfumes fortes.
No máximo, comprometo-me
com uma lavanda.
Eu, eu quando frisam...
Vá arrumada!
Fico a procurar a roupa
que ainda me caiba.
Estou gorda feito uma baleia.
E, pior, e sem a graça dela
nem o refrescante oceano para
transitar.
Eu, que diante certos timbres de vozes.
Do tipo gralha dissonante.
Coloco a TV no mudo, e
continuo a ler as notícias
em lábios alheios.
Enxergo deselegâncias interiores.
Almas puídas com preconceitos idiotas.
Vejo idiotas públicos ostentarem
seus rótulos
de senhores respeitáveis
e "de família".
Como se alguém, nesse planeta infame
sendo humano, tivesse nascido da
casca do ovo... ou de um plâncton abandonado
A obviedade bastarda de alguns
que torna certos momentos sociais
escombros terríveis da humanidade.
As vezes, eu como Álvaro de Campos.
Fico a perceber que não me encaixo
nesse tempo.
Tão contemporâneo e cruel.
Tão interconectado e sem empatia.
Tão solitariamente imerso num individualismo doente.
Eu, que vejo desfilar o machismo patológico.
Que grita, que violenta e mata cada
vez maior número de mulheres.
E, as submissas então?
Por vezes, tento lhe ter piedade.
Por vezes, tento não lhe ter ódio.
Será que dá para fingir ter dignidade?
Não.
A resposta monossilábica e desastrosa.
É: não!
Precisamos lutar.
Hoje, amanhã e, talvez sempre.
Mas, hoje, estou fossilizada em meu
corpo, no estreito de minha alma.
Só consigo parodiar o Poema em Linha Reta.
E, como fali fatalmente
Construo o Poema em Linha Torta,
para acompanhar órbita de tudo.
E, ficar apenas na beira do abismo.
Prestes a hipnotizá-lo.