No avesso das palavras
dormem os sentidos.
Vetores intensos repletos
de sentimentos e contradições.
No avesso das palavras
há fonemas fugidios,
há suspiros nas pausas,
há a insanidade da vírgula.
Dentro do texto, na construção
lógica e convincente
Há retórica.
Há dialética dolente
a pedir compreensão e adesão.
Muita dialética, por vezes,
violenta. Estupra a lógica.
Espanta o ouvinte.
E atordoa a quem dormia
em alienação profunda.
E, na realidade doente.
No profundo miolo do texto, onde os brados
retumbam em parágrafos densos.
Nossos medos ecoam.
Porque podemos não ser ouvidos.
Porque podemos ser ignorados.
Porque podemos, sinceramente, ser traídos.
Trair, sem o perceber...
E, na solidão do abandono.
Entender tudo conjuntamente.
Apreender toda a realidade, reciclar
e levantar a voz,
como se fosse o último grito da humanidade.
Um gemido.
Uma criança.
Uma alma.
E, uma mera lembrança.
Fomos irmãos, companheiros,
fomos humanos e,
agora, somos, todos nós
apenas vítimas.