Eu bebi o café preto.
Com o mínimo de açuçar.
Desceu a goela abaixo
queimando saudades,
relutando com a nostalgia
de tempos que não voltam mais.
quem me dera poder verter
o mundo
degluti-lo,
digeri-lo.
E, no sistema digestivo
decifrar e decifrar-me.
Mas, são dois lados da gangorra.
Mas, são duas arestas opostas.
São paradoxos propostos e, revisados.
Que amanhecem e adormecem
Eu bebi o café preto.
Pelas ideias me assombravam.
Preto era meu luto.
Meu vestido e meu véu.
No dia nublado
repleto de cores cinzas
Lembrei-me do afago do orvalho
Em tornar-se a pérola da rosa,
e por saciar a sede de lirismo.
Eu bebi.
Engoli.
Palavras e fonemas.
Rimas e coincidências.
Lirismo e consciências.
A alma aquecida pelo café
foi descansar.
O corpo animado pelo café
Esticou-se no cumprimento
eterno do horizonte.