"Fortis Fortuna Adiuvat”, dito em latim que pode ser traduzido como “A sorte favorece os corajosos”. O mote é o lema de um dos batalhões mais famosos das forças armadas americanas.
A tragédia, em seu étimo, no grego, significa o canto do bode. É a imitação de uma ação de caráter elevado e completo, de certa extensão, numa linguagem temperada com condimentos especiais, conforme as diversas partes, imitação que é feita por personagens em ação e não por meio de uma narrativa; e, que provocando piedade e terror opera a purgação própria de semelhantes emoções.
A comédia em étimo advém do grego significando procissão alegre. Há três critérios de oposição à tragédia: personagens de condição modesta; desenlace feliz; provocar o riso; Há heróis inferiores ao públicos, posto que sejam terrenos, limitados, mesmo que sejam personalidades públicas. E, o motor é dinâmico tocado em confusões e enganos.
Ricardo III foi personagem histórico que viveu pouco (1452-1485), portanto, apenas trinta e três anos. Foi o último Plantageneta e, contemporâneo da Guerra das Duas Rosas (1450-1485). Governou em pleno clima de guerra civil. O animal de seu escudo era um javali branco. E, morreu em batalha defendendo seu reinado, após a traição de vários nobres.
Ricardo III foi um autêntico rei maquiavélico, pois fora um executor impiedoso de uma necessidade histórica. Exterminou os resíduos do feudalismo para unificar a Inglaterra. Ricardo III, de Shakespeare, foi maquiavelista no sentido lendário, ou seja, um tirano sangrento, um contumaz assassino nutrido por intenções diabólicas. Porém, não foi o bardo quem inventou essa questionável imagem do rei.
Decifrar a essência de quem foi Ricardo III é bem difícil pois há uma tese histórica oficial em que se baseava nos direitos duvidosos da dinastia Tudor, a saber, de Henrique VIII e da própria Rainha Elizabeth I.
A dinastia tinha criado e inculcado na consciência inglesa de que foram os Tudors que, depois do sangrento reinado de Ricardo II, pacificaram o país. E, o bardo, bem como todos seus contemporâneos, aceitava esse Tudor Myth, que foi aliás, muito além de mito pseudo-histórico, sendo uma completa doutrina política.
Com o fito de fortalecer o poder da dinastia, ensinou-se ao povo o horror a toda e qualquer rebelião e guerra civil e, por isso, os revolucionários democráticos nas peças do bardo são sempre malfeitores ou imbecis.
É bom sublinhar que os críticos que pretenderam encontrar em Shakespeare o democratismo, ou mesmo antidemocratismo de tempos mais modernos, cometeram anacronismos. E, tampouco tem razão aqueles que confiam, para a interpretação nas leituras e cartilhas político-históricas do dramaturgo inglês. Evidentemente, o bardo assim como homem de seu tempo e de seu país, utiliza o mito dos Tudors. Mas, quem acredita nesses mitos, não é o dramaturgo, e, sim, seus personagens.
A biografia escrita por Sir Thomas More, por sua vez, contribuiu para criar a lenda obscura de Ricardo III. No final do século XVI, durante o reinado de Elizabeth I, William Shakespeare daria ainda mais peso a essa interpretação, ao compor o personagem do rei como um homem fisicamente deformado.
Quase 200 (duzentos) anos depois da morte dos príncipes, em 1674, os esqueletos de duas crianças foram encontrados dentro de um caixão de madeira, enquanto a Torre passava por reformas. Identificados como Eduardo V e seu irmão, os restos mortais foram novamente sepultados na Abadia de Westminster.
Todo o conflito e das atrocidades passadas, de ambos os lados, pelos York e Lancaster, Ricardo III dramatiza um conflito arquetípico entre o bem e o mal, personificado em um personagem, o vilão- herói, e Richmond seu oponente que interpreta o papel de agente honrado da justiça divina e poética. Enfim, os corajosos contam com a sorte.