Tudo é tão passadiço.
Tudo é transitório e tão célere.
A pujança nos açoda.
Quando estamos ainda processando ideias.
Vem cenas, símbolos e gestos.
Vem a mímica da semântica.
Vem a fonética dos sentimentos.
Vem a caligrafia suja dos pecados.
Tudo é tão passadiço.
Entre o hoje e o ontem.
Entre o hoje e o futuro.
Futuro projetado por reticências.
Arquitetados por paradoxos.
E respostas inconscientes.
De assentimento.
De rejeição.
De recalque.
Tudo é tão pouco
diante da imensidão do abismo,
diante da profundidade do silêncio,
diante do mar de suas lágrimas
e a tormenta de seus medos.
Olhei em seus olhos.
A transitoriedade da vida.
A complexidade banal cotidiana.
E, suspirei aliviada.
Pois não precisamos entender tudo.
Afinal, tudo é tão passadiço.
Todos nós somos cortiços
provisórios de nós mesmos.