Tinha uma poesia gutural.
As gotas do orvalho bailam ao vento.
Os raios do sol dançavam também.
As nuvens esvoaçantes brincavam
em ser o que não eram.
Havia uma rima implícita.
Um lirismo ilícito.
Pecador solene que
desfilava sua soberania
sobre as coisas.
Na árvore, os frutos espalhavam
o seu cheiro maduro.
Havia uma poesia gutural.
A chuva se avizinhava
O cheiro da terra úmida.
O barulho da chuva nas telhas
e na mata.
Dos galhos pingavam a esperança
de dias melhores.
Eram verdes.
Esverdeados
E até refletiam o azul do céu.
Das palavras em fonemas
saiam o som inexplicável
da poesia.
Das gotas de sangue
misturadas aos orvalhos
Das gotas de lágrimas,
misturadas as gotas de chuva.
E, tudo tão líquido.
Lavavam a alma,
o espírito e, ainda, o corpo.
Sólido.
Insólito
e, insosso.