Não me amole!
Estou doente.
O nariz entupido.
Olhos inchados
E uma coriza infernal...
Não me amole!
Com coisas comezinhas.
Em que me interessa,
o que acha vizinha?
Dane-se a vizinha.
E, seus preconceitos torpes.
E, a sua visão míope
beirando à cegueira existencial.
Não me amole!
Minha garganta está inflamada.
De tal forma, que as palavras
parecem farpas de cristal
a raspar-me a goela abaixo
e, tirar o som dos fonemas...
Só resta o silêncio de Hamlet.
Só resta a bondade de Gandhi.
Só resta o olhar da Mona Lisa.
Estou na cama,
já tomei os medicamentos.
E, fico a esperar que eles funcionem.
Que a alergia me dê uma trégua.
Meu Deus, onde nesse vasto mundo,
não há poeira....?
Tenho alergia a poeira.
E, a cheiro fortes e
a gente ignorante e preconceituosa.
Mas, socorram-me, onde
posso escapar incólume disso tudo...
Não há limpeza que elimine toda a poeira.
Não há olfato que selecione
apenas os odores suaves.
E, não há educação capaz de eliminar os
preconceituosos e ignorantes.
Que são tão crédulos, que acreditam
piamente na força da própria torpeza.
Ah... Lá vou eu para o nebulizador.
E, aos chás da vovó que curam tudo...
Até solidão.
Não me amole!
Hoje estou de molho.
Sem estar imersa em água.
Estou de cama,
sem estar inválida...
Vivem as ideias pulando da
cabeça para o papel...
E, saltam, e fazem o salto
moral para o infinito...
Todas ideias moram no infinito.
Escritas nas almas,
nos olhos pios e
na amargura de poetas
que envelhecem e adoecem.