Imagine um mercado que disponibilizasse em suas prateleiras sentimentos. Quanto vale um perdão? E, um afeto? E uma saudade? Eu entrei nesse mercado imaginário, onde sentimentos, valores e pensamentos eram mercadorias acessíveis e fáceis de adquirir... Eu estava meio tristonha, com lista longa de itens para comprar no supermercado. Aliás, não existe nada mais deprimente que fila em supermercado. Eu gostaria muito de adquirir perdão... Preciso urgentemente perdoar muita gente e muitas coisas. E, também me perdoar. Deixar passar... mas esquecer não é perdoar... Madalena me pediu mil desculpas, por haver várias vezes, falhado comigo. Eu precisava sair com horário marcado, e demorava a chegar para ficar em casa e fazer aquela faxina... Também deveria perdoar aquele diretor que elogiava tanto como profissional, mas lamentava, porque eu nascera mulher... isso porque para aquele misógino era um minus... quase uma ofensa grave. Ah, eu pensava: "- seu misógino miserável..." Eu respondi: - "Doutor, se eu fosse homem morreria de vergonha desse comportamento seu tão deplorável..." Por assim, dizer, há males que vem para o bem. Também eu compraria uma tonelada de ponderação. Meu temperamento é explosivo e sincericida. Não suporto quase nenhuma provocação e, dou o troco quase imediatamente. O que não rende, exatamente, simpatias. Mas, ao menos, não sou hipócrita... sempre coloquei na agenda interior que eu deveria fazer um curso de teatro... afinal, já que fiz um sobre locução... para conseguir o credenciamento como locutora, precisava ter habilitação técnica em teatro. Ah... um personagem gostaria de interpretar... a melancólica Ofélia... em Hamlet. Se bem que os personagens shakespearianos não são para amadores... Deve ser lindo morrer afogada por amor. Enfim, no fim da lista, eu também compraria um pouco otimismo, porque nessa crise sanitária, cumulada com crise política e econômica, está muito difícil ser otimista e acreditar que existirão dias melhores. Mas, como estamos lendo um conto, todos os sentimentos bons foram adquiridos e armazenados no coração, para a alma enriquecida encerrar o conto com chave de ouro. Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe, diz o sábio provérbio português.