"O conhecimento é o mais potente dos afetos: somente ele é capaz de induzir o ser humano a modificar sua realidade." Friedrich Nietzsche (1844?1900).
 

Professora Gisele Leite

Diálogos jurídicos & poéticos

Textos

prateleiras
Quando só se escolhe caminhos possíveis
Há triste certeza do finito
Da sombra escura da tarde
Do tempo a corroer tudo

Somos esculpidos pela vileza
de um vento qualquer,
paridos por um ventre qualquer.
Qualquer história é apenas mais um enredo
Na encruzilhada narrativa da vida

Tudo é cenário
Os protagonistas são atores perplexos
Em seu roteiro possuem a glória e o infortúnio
De vender-se
De entregar-se de olhos vendados

Uma parte de mim se fragmenta
E se perde na poeira
ou é digerida por ácaros
Pelas frestas, arestas em ângulos.
Superpostos emigram olhares abusivos
Espreitam imagens recônditas
Devassam privacidades fictícias


Tudo está posto
Como em prateleiras
Com ou sem vitrines
Não interessa se há a luz e simetria
Interessa que a vida nos é servida
Para poucos talheres.
Poucas sensibilidades.

Nos talheres de nossa ambição,
Dilaceramos sentidos, esquadrinhamos emoções
Contidas e contigenciadas
Todo mundo quer dar um grito agudo e contínuo
Mas não dá.
No fim, a mordaça do silêncio nos supera
E nos torna expectadores da nossa própria existência.

Tudo está posto,
Irrespondivelmente posto
Posto e exposto.
Numa disposição vetorial, explícita
Por debaixo das palavras,
Dormitando sob expressões, gestos,
Olhares e prosaicas interjeições.

Nosso medo está posto também
Na mediocridade cotidiana
Medo da morte
Medo do amanhã
Medo da dúvida
Medo da certeza
Medo do medo
A escravizarmos nossa idéia
de pretensa liberdade

Os grilhões estão expostos
reluzentes ou enferrujados,
potentes ou frágeis
Mas, nos amarram moralmente.
Indefectivelmente
É advérbio inconsciente
De modo e de tempo

E, nos afundam pelas âncoras jogadas em
lugar incerto.

Somos postos em prateleiras
Olhos percorrem perímetros
Mas poucos se adiantam na profundidade
dos conteúdos

A gente vê, mas não enxerga.
A gente sente, mas não entende.
A gente sabe, mas não é consciente.

Corpos ensaiam a pantomima de ser vivente.
Ilude-nos a dinâmica do movimento.
Mas somos apenas rascunho,
É a morte que nos eterniza,
dá o acabamento final.

A palavra final,
O gesto fatal
Enfim, o estilo que nos particulariza
Na memória das prateleiras
do mundo.




GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 15/11/2007
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