É verdade que muitos dos conflitos culturais, políticos, filosóficos e até mesmo militares que vivenciamos na contemporaneidade são provocados pela exaltação negativa do que nos diferencia dos outros, e não daquilo justamente que temos em comum. A ciosa dificuldade de enxergar o outro como igual afeta nosso sentido de humanidade e civilização. E, Edgar Morin refletiu sobre a nossa cotidiana incompreensão sobre a diferença. É notável a dificuldade para compreender um estrangeiro que tem costumes diferentes, ritos diferentes, crenças diferentes e, quiçá, religiões diferentes. Possuimos dificuldade para compreender e sentir que o outro é como nós mesmos, sendo simultaneamente diferente e parecido conosco. Pois, há a diferença por sua singularidade, em suas características próprias, sua cultura e caráter. Por outro viés, é igualmente parecido conosco, em sua capacidade de padecer, amar, chorar, rir e, principalmente, refletir. Tal problema não existe apenas na sociedade, também nas famílias. Porque não somos educados para conhecermos a nós mesmos, para conhecermos o outro. Porque cada um de nós sofre o que os ingleses chamam de ‘self-deception’, ou seja, a mentira a si mesmo. Cada um mente a si mesmo, quer esquecer suas fraquezas, suas carências e coloca o outro como vilão, o malvado que tem fraquezas e carências. Fica mais fácil demonizar o outro, do que rever atitudes e redimensionar valores.