Houve um tempo, nos áureos tempo de chumbo, que era comum ouvir a seguinte pergunta: -"Você sabe com quem está falando?" Perguntou o paciente de Alzheimer que, ainda, crê que tudo gira ao seu redor, o que é sintoma evidente de labirintite, sendo recomendável procurar um otorrino para o devido tratamento. Ademais, tal gesto pode ser tipificado como crime de abuso de autoridade.
Infelizmente, temos uma tradição escravagista, o que nos faz crer que temos que ser servidos. Urge substituí-la pela tradição republicana que enxerga que temos em cada um de nós, funções diferentes, hierarquias diferentes, valores diferentes e, até poderes diferentes.
Quanto maior for o poder, maior será minha responsabilidade, pois, o poder existe em função do bem comum. Eis aí, a crucial diferença entre ter autoridade e simplesmente ser autoritário.
Afinal, reconhecer que somos diferentes e temos poderes diferentes, parece simples, mas que no fundo, somos todos iguais. Humanos, e precisamos preservar e defender a dignidade humana. A cada dia e a cada instante...
E, quanto maior for minhas qualidades, titulações, habilidades, igualmente maiores serão as minhas responsabilidades. Portanto, não é um gesto ético respeitar alguém que é poderoso ou superior hierárquico.
Precisamos superar a tacanha noção e necessidade de ser o "macho alfa" oriunda do estudo dos mamíferos. A necessidade de ser o "macho alfa" nos conduz a gestos nada éticos. Afinal, não preciso sempre ter razão numa discussão, nem preciso ser o ente superior no grupo. A ideia de ser integrante respeita e contribui para o todo e, o todo, por sua vez, retribui a isto.
O que me torna capaz e hábil em ouvir e ceder o outro, quando necessário traduz uma melhora incrível nas relações pessoais. Quando deixamos de ser "macho alfa" (e isto, não é uma questão unicamente do gênero masculino), passamos a perceber o quão iguais somos e, quando, finalmente, adotamos o paradigma do serviço e da ética. Realizamos uma escolha ética. Quanto maior for meu conhecimento, maior será a oportunidade de servir e ajudar.
A escolha ética pode, realmente, não nos garantir o paraíso, mas pelo menos, não nos arremessa certeiro e diretamente para o inferno. A escolha ética pode trazer como brinde a felicidade que nunca será plena, mas, a vida que essencialmente vale a pena de ser vivda é a vida ética. Onde afetos e dignidade humana são respeitados.
Não devemos ofender para não sermos ofendidos. Regra simples e banal mas, contemporaneamente, tão aviltada.
E, se ofendemos alguém, no mínimo, devemos ter a hombridade de pedir perdão. Não podemos ser tolerantes com os intolerantes, senão abortaremos de vez toda a civilização humana.