Marina tinha teleconsulta com o Doutor Edmundo, neurologista afamado e bastante acostumado as tecnologias digitais. No fundo, Marina achava meio estranho ficar a conversar com o médico com essa distância... mas, em face da pandemia ou pandemônio de coronavírus, outro jeito não havia. Afinal, as consultas presenciais acabaram-se. A consulta era às 13 horas, ficou sem almoçar, pois temia parecer suja ou suada na esmirrada tela do celular. Doutor Edmundo mudou progressivamente a medicação de Marina, ela sofria de hiperatividade... dormia apenas cinco horas ao dia. Mas, se deixasse de dormir essas poucas horas, seu cérebro quase tinha um curto-circuito. Ela estava preocupada, pois tinha que passar a camisa de linho de José, seu marido. Sujeito muito exigente e detalhista. Intimamente, achava estranho o apego exagerado aos detalhes. Por causa disso, estava próxima no manuseio das ferramentas domésticas, como o ferro de passar. O mais moderno ferro à vapor, prometia maravilhas. Só restava saber se eram, de fato, verídicas. Para a teleconsulta, Marina nunca se preocupava com o cenário, afinal, todos sabiam que estavam em casa... Então, esqueceu-se de guardar o ferro, que como um monumento, apareceu para Doutor Edmundo... Que depois da revisão dos medicamentos receitados, inquiriu: - Não vai guardar o ferro? Ao que Marina respondeu, meio sem-graça: - É que irei usar daqui há pouco... Foi então, que percebera que a teleconsulta, o médico entra na casa, na rotina e na família do paciente, o coisa intrusiva!