Passei três dias de cigano... explico: essa é uma frase peculiar do fim do século XIX no Rio de Janeiro. A cobrança insistente aos devedores desmemoriados, por cobrador tenaz e de paciência inesgotável, que acompanhando-os ininterruptamente por três dias, com a sincera obstinação sorridente de ciganos. Os taberneiros dizem que não há quem resista a três dias de cigano. Depois, de finalmente conseguir receber o famigerado débito. Fui para casa. Encontrava-me exausto, o terno amarrotado, a gravata parecendo um ninho de pássaro esquizofrênico... enfim, entrei sorrateiro. Fechei o portão, e a lingueta do ferro fechando gerava um ruído estrindente. Ao adentrar a porta da sala, que estava apenas encostada, encontrei Maria... a passar minha camisa de linho, aquela de difícil execução. Cumprimentei-a. Ela, me olhou com ar de pilhéria... perguntou-me: - Meu nego, quando você, vai deixar de ter essas camisas... Tem que ser muito hábil para passá-la... Murmurei baixinho: - Largue esse ferro. Guarde-o... está um calor horroso para suar simplesmente para passar esse linho... Ela sorriu, com ar infante, mas já está acabando... Vamos descansar um pouco... essa vida é breve... e não sabemos por quanto tempo ainda estamos por aqui. Por vezes, tudo que precisamos é descanso.