Estamos condenados a ser livres e a fazer constantemente escolhas. O que, em verdade, é mais negativo do que positivo. Afinal, não temos a opção de não o ser. Inúmeros filósofos questionaram a liberdade. Uns alegam que a liberdade é mera ilusão, pois fatores pretéritos e, que não dependem de nossa vontade, determinam nossas decisões e caminhos. É preciso que tenhamos consciência do ativismo que nos cerca. Há fatores genéticos, históricos, geográficos e evolutivos que nos solapam completamente. A existência da liberdade é uma antinomia. Somos igualmente condenados a ser desejantes, afinal, são, justamente, os desejos o que mantém a chama acesa da vida e, nos motivam a prosseguir. Até o suicídio é um derradeiro ato de desesperado desejo. Platão dividiu o homem em duas partes, a superior que é alma, sendo despreendida do mundo sensível e, portanto, dos afetos. E, a outra parte inferior que é presa ao mundo sensível, real e dos afetos. Concluiu Platão, que o homem superior é quem renuncia ao mundo sensível, pelo mundo das ideias. Ao passo que o homem inferior, é quem dá total vazão aos afetos e, por causa destes, tem suas ideias afetadas pelo mundo sensível, sendo portanto, impuras. A dualista interpretação platônica marcou decisivamente o pensamento ocidental, notadamente, o pensamento religioso. O mundo natural cedeu lugar ao antinatural e, então, os desejos se tornaram nocivos e, passaram a ser chamados de pecados. A negação ao desejo passou ser ordem tida como sinônimo de nobreza intelectual e espiritual. Mas, negar os próprios desejos temos, enfim, um outro desejo. Não se pode fugir destes. A abnegação dos desejos nada mais é que a negação da natureza humana.