Ditado, como o próprio nome informa, é a expressão que através dos anos se mantém imutável, aplicando exemplos morais, filosóficos e religiosos. São frases curtas que têm a função de aconselhar e advertir, ao mesmo tempo que transmitem ensinamentos. Alguns deles possuem rimas, recurso que facilita a memorização. De tradição oral, os provérbios e ditados fazem parte da cultura...
Os provérbios ou ditados populares constituem uma parte importante do folclore de cada cultura, estes estão presentes no nosso cotidiano, são passados de pai para filho, de geração em geração enriquecem a nossa forma de comunicação.
Historiadores, estudiosos e escritores já tentaram descobrir a origem dos ditados populares, mas essa tarefa não é fácil.
O ditado popular "as paredes tem ouvidos" remonta à França do século XVI, quando haviam muitos conflitos políticos e religiosos que culminaram com o massacre de muitos protestantes ocorrido em 24 de agosto de 1572, a famosa Noite de São Bartolomeu, em Paris.
A ordem genocida originou-se da realeza e do clero francês que eram católicos fervorosos.
De acordo com o Dicionário de Expressões Correntes, de autoria de Orlando Neves, tal matança teve como responsável a rainha consorte Catarina de Médici que era esposa do Rei Henrique II. A Rainha Catarina era mãe de três reis da França, a saber: Francisco II, Carlos IX e Henrique II e, confirmou sua grande influência na França por mais de três décadas.
Entre inúmeras estratégias, Orlando Neves destacou que a mais célebre destas foi: a nobre teria mandado ligar por tubos acústicos secretos as salas do palácio real, o Louvre, a fim de possibilitar a deliberada audiência em outras salas de encontros políticos, onde as portas eram fechadas. O registro de provérbio semelhante, igualmente, apareceu num clássico medieval intitulado The Cantebury Tales, escrito por Geoffrey Chaucer entre 1387 a 1400, sendo uma obra de contou que "aquele campo tinha olhos e, a madeira tinha ouvidos".
Convém alertar que tanto ocidentais quanto orientais concordam com a expressão que alerta para os perigos de sermos escutados sem saber. O dito existe, nessa mesma forma, em línguas como alemão, francês e chinês. Sua origem remonta a um antigo provérbio persa que dizia: “As paredes têm ratos, e ratos têm ouvidos”.
Câmara Cascudo indica que a expressão se originou de antigo provérbio persa. Sua origem remonta a um antigo provérbio persa que dizia: “As paredes têm ratos, e ratos têm ouvidos” E, a expressão galgou sentido literal que pode ser testemunhado até os presentes dias em castelos medievais e, particularmente, os palácios renascentistas.
De acordo com o Dicionário de Fraseologia, de autoria de José Pereira da Silva (2013), in litteris: Locução usada para advertir dos perigos das indiscrições Usada para instar alguém a policiar o que di: "cuidado para tratar desse assunto, porque as paredes têm ouvido." Adiante, o mesmo autor, advertiu:
"As paredes têm ouvidos, mas as portas são surdas. Os antigos romanos faziam suas oferendas à deusa Porta, suplicando-lhe favores, beijando-a, molhando-a com lágrimas, perfumando-a e enfeitando-a com flores.
Tinham também o costume de gritar diante de uma porta fechada, dirigindo-lhe injúrias para desabafar, o que faziam também à própria deusa quando não tinham seus pedidos atendidos.
O escritor romano Festus registra o costume, denominado occentare ostium (injuriar a entrada, a porta), que vigorou ainda por vários séculos durante a era cristã. No Brasil pode ter havido influência das cancelas e portões cujos gonzos emperravam e impediam o som das portas, que era o sinal de que estavam funcionando bem. Porta surda era aquela que não podia ser aberta, a não ser com muita dificuldade".
Outra referência é o Dicionário Aberto de Calão e Expressões Idiomáticas de autoria de José João Almeida (2021) informa: "indicação à outra pessoa de que tenha cuidado com a possibilidade de que esteja alguém a estudar a conversa, de que não é seguro dizer segredos... ex.: Cuidado com o dizes! As paredes têm ouvido.".
Nos EUA, mostraram que as paredes podem também ter olhos e até outros sentidos mais exóticos. Com algumas demãos de tinta condutiva e um circuito eletrônico instalado no rodapé, eles transformaram uma parede comum em um gigantesco sensor capaz de sentir o toque humano, detectar e mapear gestos ou quando um aparelho ou móvel está sendo usado.
A tinta eletricamente condutora é usada para pintar eletrodos ao longo da superfície da parede, permitindo que ela funcione como um touchpad e como um sensor eletromagnético.
Lembremos que usar a fala correta é, enfim, saber deter um poder imenso, pois é pela fala que se torna rei, seja pela tirania, seja pelo amor. (In: COSTA, Eduard Montgomery Meira. O Poder da Língua Grande,2013).
Segundo Pierre Bourdieu a relação existente entre língua e poder demonstra como o poder da língua influencia a sociedade em diversos aspectos. E, tal poder está vinculado às raízes históricas, mas, igualmente, à própria estrutura social, que dota a língua de poderes e, estabelece também as diretrizes acerca de seu uso ideal.
O poder da linguagem determina a posição social do indivíduo dentro do contexto social. Além disso, a linguagem faz uso de outros recursos chamados por Bourdieu de poderes simbólicos para enaltecer mais ainda as relações de poder. Bourdieu observa a interação entre língua e sociedade como uma espécie de mercado linguístico onde existe para cada maneira de falar um mercado que está apto a assimilar aquele tipo de linguagem.
O poder da linguagem determina a posição social do indivíduo dentro do contexto social. Bourdieu observou a interação entre língua e sociedade como uma espécie de mercado linguístico onde existe para cada maneira de falar um mercado que está apto a assimilar aquele tipo de linguagem.
As considerações do sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002) sobre as relações entre linguagem e ritual, presentes no conjunto de artigos que compõem a obra “A economia das trocas linguísticas”. “O que falar quer dizer” (1982), derivam inicialmente de uma crítica às ideias do filósofo e linguista britânico J. L. Austin (1911-1960).
De acordo com Austin, a força ilocutória do discurso, sua capacidade de promover ações, encontra origem nas próprias palavras, entendidas como objetos autônomos, ideias que, em linguística, ficaram conhecidas como a “teoria dos atos da fala”. Para Bourdieu, haveria um equívoco nas formulações dos linguistas cuja origem epistemológica remonta à divisão que F. Saussure (1857-1913) realizou entre a ciência da língua (linguística interna) e a ciência dos usos sociais da língua (linguística externa).
Bourdieu rejeita ainda o argumento de que as palavras fazem “coisas” – tal como indicava o próprio título da obra mais influente de Austin How to Do Things with Words (1962), pois a eficácia da linguagem verbal, sobretudo em termos rituais, não deve ser entendida de forma autônoma, independente das condições sociais de sua produção.
Tomando a linguagem ritual em sentido amplo, não apenas em seu aspecto verbal, Bourdieu realiza considerações críticas à teoria dos ritos de passagem formulada por Van Gennep (1873-1957) e ampliada por Victor Turner (1920-1983), sugerindo uma mudança na abordagem relativa a esses rituais, da passagem à “separação”, o que o leva a propor os “ritos de instituição”. Segundo ele, a descrição dos detalhes simbólicos dos rituais tende a mascarar o efeito essencial do rito: a separação entre iniciados e não-iniciados.
Tal mudança de foco e de designação seria capaz de ampliar o poder de generalização e explicação dos rituais sociais, pois os ritos de instituição, além de confirmarem diferenças inscritas na natureza – como os ritos de circuncisão que marcam e confirmam, mais do que a diferença entre homens e meninos, a distinção entre homens e mulheres – seriam capazes de inscrever e naturalizar diferenças presentes no contínuo do tecido social, como fazem os concursos, premiações e investiduras.
Bourdieu retomou a partir daí a importância da “linguagem autorizada” de um sistema social constituído por agentes, instituições e palavras adequadas, que servem de base para a validade e reconhecimento do ritual de instituição.
Este ritual produz distinções que delimitam as diferentes classes, o que termina por imprimir no iniciado uma segunda natureza, um habitus, com a ajuda de liturgias específicas.