"O conhecimento é o mais potente dos afetos: somente ele é capaz de induzir o ser humano a modificar sua realidade." Friedrich Nietzsche (1844?1900).
 

Professora Gisele Leite

Diálogos jurídicos & poéticos

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Estudos recentes apontam que as mulheres são mais suscetíveis à culpa do que os homens. Enfim, qual será a senha para a igualdade entre homens e mulheres?

Em verdade, a culpa é ruim, envenena a alma, mina a racionalidade e esmaga o prazer. Enfim, num mundo ideal jamais deveria haver maior culpa para quem quer que seja, seja de qual sexo for...

Os estudos do espanhol Itziar Etxebarria conduzido em 360 homens e mulheres e realizado na Universidade do País Basco e, ainda, publicado no Diário Espanhol de Psicologia, diz que a pesquisa desta a necessidade de práticas educacionais e socializantes para reduzir a tendência da ansiosa e agressiva culpa nas mulheres e, procurar promover a sensibilidade interpessoal nos homens.

As mulheres arrastam seu fardo de culpa injustificada, assumindo a responsabilidade sobre o agir de outras pessoas desde o começo de sua infância.

Afinal, a culpa é um dos lados do perverso triângulo, os outros dois lados são a vergonha e o estigma. E, nessa combinação macabra, segue a tendência em culpar as mulheres pelos crimes cometidos contra elas.

Qualquer vítima de crime sexual que denuncia o criminoso agressor, não deveria sentir vergonha. Mas, a mulher sente, e esconde a identidade, o que significa no fundo endossar o preconceito misógino. Quando será que finalmente as mulheres se sentirão livres para identificar e denunciar agressores sem se envergonharem, enquanto isso as feras infligidas continuam abertas sem direito à cicatriz.

Lembremos que vítima indiana do estupro coletivo recebeu prêmio póstumo de Mulher de Coragem nos EUA no Dia da Mulher, que é reconhecida com alcunhas dados pelo povo, tal como Nirbhaya, ou, Destemida.

Destaque-se que nenhum membro da família da vítima indiana estava presente na cerimônia. Por que não podemos saber ao certo quem foi Nirbhaya? Porque ser estuprado por um grupo de ébrios é ser desonrada. E, tal estigma se estende a sua família, sua comunidade e, até mesmo, a sua universidade. Ela ficou honrada, porque fez a coisa certa, morreu. Ela não pode estar gritando por justiça.

Mulheres do mundo inteiro vivem em várias culturas, todas se desculpando da violência sofrida pelos homens, e frequentemente, de forma trágica, interpretam-se tais atos de brutalidade e bestialidade como legítimas provas de amor. Uma pesquisa britânica sobre crime registra que duas mulheres morrem pelas mãos de seus parceiros a cada semana. E, a polícia não consegue ajudar pois elas não deixam o parceiro violento, foi escolha das vítimas permanecer e morrer.
 
Como vencer o dilema, e educar as mulheres para rejeitar o estigma e se recusarem a sentir vergonha do que sofreu, sem isto, não há um pingo de esperança em se ter um estatuto humano completo.

Franklin Delano Roosevelt descreveu, a seu tempo, quatro liberdades essenciais: a de expressão, a de adoração, do querer e a liberdade do medo. E, a quinta liberdade é a liberdade da vergonha... É uma pena que essa culpa atávica ainda exista contemporaneamente.

Precisamos combatê-la. Diariamente. A vítima não é culpada. Somos imperfeitas num mundo imperfeito.
 
Referências
 
GEER, Germaine. Glitch Feminista. A culpa envenena as mulheres. Disponível em:  https://medium.com/qg-feminista/a-culpa-envenena-as-mulheres-e0515faaeafa  Acesso em 10.3.2021.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 03/04/2021
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