Eu pensava no ritmo espanhol
sobre um romance fadado à tragédia.
Mas, não queria ser Carmen, de Bizet
O rum e o melaço levaram-me
docemente à Cuba.
Preciso do bolero
Do abraço sem sobras
Preciso dançar como uma cigana
Para espantar minhas tristezas
Preciso ver aqueles olhos verdes
Tão oxidado quanto o cobre do punhal
Guardado por uma pessoa insana
A atraverssar-me as costas,
a alma e, principalmente, a
ilusão de ser amada.
Preiso de um bolero
De um giro duplo,
do trocadilho e da picardia
Do romance fuleiro
da banalidade
Do corpo inteiro
repleto de saudade.
Preciso de um bolero
Da porta que se fechou.
Da última palavra.
Do último silêncio
Que tudo dizia,
em seus passos
jingados.
Das reticências que fingiam...
Preciso urgentemente
de um romance solúvel,
biodegradável,
que se esconda nas nuvens,
que se derrame nas chuvas
E, depois quando secar
deixe algum perfume
de flores ou fuligem.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 11/03/2021
Alterado em 11/03/2021