Idealizo uma prosa poética com a estética ideal. Com a nata de cimento cinzenta e discreta, a encaixar e colar palavra por palavra e, enfim, a extrair das pedras a semântica do tempo. Tornei-me expert em ler faíscas e decifrar esfinges. E, a poética se esfarrapa lentamente, fio por fio.
E, os farrapos bailam ao vento, esvoaçados invadem o espaço e desenham signos misteriosos. Idealizo uma poética a procura de algum sentido, no beco, no meio da rua ou por detrás das máscaras e na assepsia pungente do álcool em gel. Com cinzel tento esculpir as ideias num poema miragem que surge em meio do deserto da humanidade.
Minhas retinas tortas e chumbadas inspecionam almas, mas, faço ouvidos moucos. Enfim, concentro-me profundamente em frases perdidas. Em sílabas abandonadas, em interjeições sucessivas e pragmáticas. Minha consciência estarrecida com as figuras de linguagem, vigia atentamente a realidade aumentada.
Simula entender, prossegue sobrevivendo e atalhando desejos com a brisa de todas manhãs. E, suportando nos ombros o peso da maturidade. Enquanto isso, lá fora a vida escorregadia se desvanece dentro de uma ampulheta.