A alegria
Letícia abrira o livro, estava sentada na poltrona mais confortável da casa. Era uma casa modesta. E, de repente ao ler aquele texto, adquiriu um passaporte que lhe permitia entrar em mundos diferentes, em mentes diferentes e, em arquitetar um comportamento diverso e disperso.
Estava em contato com outras humanidades. Poderia ser um samurai ou um monge. Poderia ser mãe ou pai. E, ainda, poderia parir os próprios sentimentos a partir da empatia. Somos humanos demasiadamente humanos. Em nossas raízes sinceramente animais, construímos secretamente um ritual de passagem e sobrevivência.
Naquele dia era 29 de outubro, celebrava-se o dia do livro, algo típico do Renascimento e que adquiriu múltiplas roupagens e, a mais contemporânea é o e-book (eletronic book), mas não importa o formato dele. Através da leitura, Letícia atingia as estrelas, e cochichava com os astros sobre seus temores e apreensões...
O livro é um sentimento-ideia. É continente e é ilha. É particular e universal. Sentada na poltrona com os pensamentos envoltos na ambiência do livro, Letícia fazia jus ao seu nome. Era alegria genuína. E, colocava-se a sorrir.
Seu semblante suavizara, pois estava cansada e tensa. Pessoas morrendo em número expressivo. De um vírus ainda pouco conhecido. E, as migalhas do pão esparramadas indicavam que a leitora sentia fome. Mas, não tinha a coragem de ir cozinhar. Pena que as letras não resultem em proteínas... que o lirismo não seja batata e que o sorriso seja saciedade.