O título sugerido para o conto, me recordou um samba de Paulinho da Viola, uma das pessoas mais elegantes que já conheci na vida. O título é "Foi um Rio que Passou em Minha Vida". Desde que o samba era sembra remonta as origens do ritmo musical que era chamado de semba lá em Angola até chegar ao Brasil.
O semba tem em sua origem masemba ou umbigada em kimbundo. Ao chegar por aqui, a síntese foi inexorável e, aos poucos o semba foi se transformando em samba brasileiro. Entre nós, o primeiro registro do vocábulo "samba" surgiu na Revista O Carapuceiro, em Pernambuco em 1838, quando o Frei Miguel do Sacramento Lopes Gama escreve contra o que chamou de samba d'almocreve.
O samba é, sem dúvida, a principal forma de música de raízes africanas surgida no país. Já em meados do século XIX a palavra samba definia diferentes tipos de música inseridas pelos escravos desde o Maranhão até São Paulo.
O samba carioca, por exemplo, recebeu forte influência de ritmos da Bahia, com a transferência de grande quantidade de escravos para as plantações de café no Estado do Rio de Janeiro, onde ganhou renovados contornos, instrumentos e um histórico próprio, de forma, que o samba moderno, tido como gênero musical surgiu no início do século XX no Rio de Janeiro, que era capital brasileira da época
Muitos pesquisadores apontam para os ritmos do maxixe, do lundu e da modinha como fontes que, quando sintetizadas, deram origem a ao samba moderno.
O termo "escola de samba" é originário deste período de formação do gênero. O termo foi adotado por grandes grupos de sambistas numa tentativa de ganhar aceitação para o samba e para a suas manifestações artísticas; o morro era o terreno onde o samba nascia e a "escola" dava aos músicos um senso de legitimidade e organização que permitia romper com as barreiras sociais.
O samba-amaxixado" Pelo telefone", de domínio público mas registrado por Donga e Mauro Almeida, é considerado o primeiro samba gravado, embora Bahiano e Ernesto Nazaré tenham gravado pela Casa Édison desde 1903. É deles o samba "A viola está magoada".
Há registros também do samba "Em casa de Baiana" (1913), de autoria de Alfredo Carlos Brício. Porém ambos não fizeram muito sucesso, e foi a composição registrada por Donga que levou o gênero para além dos morros. Donga chegou a anunciar "Pelo telefone" como "tango-samba", no Jornal do Brasil de 8 de janeiro de 1917.
É quase consenso entre especialistas que a origem provável da palavra samba esteja no desdobramento ou na evolução do vocábulo "semba", que significa umbigo em quimbundo (língua de Angola).
A maioria desses autores registra primeiramente a dança, forma que teria antecedido a música. De fato, o termo "semba" - também conhecido por umbigada ou batuque - designava um tipo de dança de roda praticada em Luanda (Angola) e em várias regiões do Brasil, principalmente na Bahia.
Do centro de um círculo e ao som de palmas, coro e objetos de percussão, o dançarino solista, em requebros e volteios, dava uma umbigada num outro companheiro a fim de convidá-lo a dançar, sendo substituído então por esse participante.
A própria palavra "samba" já era empregada no final do século XIX dando nome ao ritual dos negros escravos e ex-escravos.
"Nos primeiros tempos da escravidão, a dança profana dos negros escravos era o símile perfeito do primitivo batuque africano, descrito pelos viajantes e etnógrafos.
De uma antiga descrição de Debret, vemos que no Rio de Janeiro os negros dançavam em círculo, fazendo pantomimas e batendo o ritmo no que encontravam: palmas das mãos, dois pequenos pedaços de ferro, fragmentos de louça, etc.. "Batuque" ou "Samba" tornaram-se dois termos generalizados para designarem a dança profana dos negros no Brasil" (ALVES, Henrique. Sua Ex.a o samba. São Paulo. Símbolo, 1976, p. 17).
A primeira escola de samba nasceu no Estácio - portanto no asfalto e não no morro - fez a sua primeira aparição oficial no desfile da Praça Onze em 1929, chamava-se "Deixa falar" e surgiu como um "ato de malandragem".
Até essa data o que se via nas ruas durante o carnaval era o desfile das Grandes Sociedades, dos ranchos carnavalescos (também conhecidos como blocos de cordas, pois possuíam um cordão de isolamento e proteção) e dos blocos propriamente ditos (mais modestos em sua administração).
A diferenciação entre esses dois últimos é pequena. De acordo com a autora Eneida Moraes (História do carnaval carioca. Rio de Janeiro, Record, 1987), citando Renato de Almeida, "os ranchos eram cordões civilizados e os blocos, mistos de cordões e ranchos".
A tradição da brincadeira de rua já existia há muito tempo no Distrito Federal (desde o entrudo e mais tarde, o Zé Pereira), mas sem nenhum tipo de organização musical. Foram justamente os blocos, ranchos e cordões que deram unidade musical a um desfile até então caótico.
Enfim, o samba é símbolo cultural de resistência e diversidade. E, perpetua por seu ritmo e poesia todas as falanges hereditárias que incorporamos.