O que mais me faz falta é a poesia. É leveza e beleza em tudo que há e, circula em nossa volta. Em órbitas concêntricas ou desconexas. O que mais me falta? A ausência de empatia, de afeto e de solidariedade humana. Por vezes, fico a pensar como o poeta Fernando Pessoa: “Onde há gente no mundo?” (no seu inexpugnável Poema em Linha Reta). E, prossegue: “Quem me dera ouvir de alguém a voz humana. Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia. Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!” Eu solidarizo-me com Pessoa, estou farta de príncipes e semideuses. Pois, tudo que mais desejo é aprofundar-me na essência da existência humana. O que mais me faz falta é a leveza pois, todos são tão graves e iracundos. Eu busco o sujeito lírico sobre si mesmo. E, confesso minha imensa dificuldade e, por vezes, até incapacidade de se relacionar com os outros. Nesse momento de isolamento social em razão da pandemia, sofro ao perceber a ausência de empatia e, o que me traz um existir solitário que encara seus próprios defeitos e, lambe suas próprias feridas, na vã tentativa de curá-las. Como um animal acuado em sua própria espécie, por vezes, olho tudo, enxergo o fundo e, não entendo nada. Absolutamente nada!