Dizia a canção: "se nos amamos feito dois (pagãos) ladrões ..." Eu roubava sua beleza, e você, a minha destreza. Éramos cúmplices. Meus olhos eram completamente seus. Meus lábios selados aguardavam seu beijo. Existiam apenas para dizer-lhe as palavras mais belas e sensíveis. Extraíamos a vida das pedras, das agruras cotidianas que rasgavam a pele, faziam sangrar a carne e, ainda, sofrer a alma...
A verdade do amor, como confidente na poesia, delegando a tudo significado e significante. O amor como fonte e fundo que experimenta o destino e dimensiona a medida de estar vivo. Pobre alma romântica enjaulada em ilusões e flutuante em nuvens prestes a derramar a chuva e, embebedar todos os desertos e, explicar todo o silêncio com lirismo impune e irresponsável.
Éramos jovens, no peito havia uma coragem inconsequente... brigávamos por tudo e, as vezes, com todos... Amar é um processo de loucura e pertencimento. É sonhar e cometer desvarios. E perder-se para reencontrar-se. Mas, na vida há tantos abismos. Queria apenas segurar-lhe as mãos já era o suficiente para ser feliz, como se fossem hábeis a salvar-me de abismos circundantes. Tenho saudade daquele sentimento. Do sentido do afeto. Da contaminação catártica da juventude. Vencíamos ou perdíamos tudo, enfim... Mas, prosseguíamos. Para onde? Para construir a palavra. Para esculpir delicadamente a semântica. Para carpir as lágrimas e esquadrinhar a existência entre paradoxos e enganos. Para, enfim, sobreviver com alguma dignidade. Um por dois e, dois por um.