"O conhecimento é o mais potente dos afetos: somente ele é capaz de induzir o ser humano a modificar sua realidade." Friedrich Nietzsche (1844?1900).
 

Professora Gisele Leite

Diálogos jurídicos & poéticos

Textos



 
Você não me conhece. Sou uma pessoa em meio a tantas outras, com infinitas possibilidades, um amontoado de células, moléculas numa química ainda enigmática para a ciência humana.
 
Sei que já se passaram meses de isolamento social, distanciamento social e, ainda, o penoso ritual de usar máscaras, higienizar constantemente as mãos com álcool gel e, ainda, limpar pés e víveres comprados.

Confesso! Tudo é muito laborioso e cansativo e a convivência tão amiúde é um desafio constante. Porque Caetano Veloso tinha plena razão: de perto, ninguém é normal.

Nos deixa insones a sensação de ausência de luz no final do túnel. São sacrifícios contumazes, enxurradas de informações e, ainda, tem-se que aturar os ignorantes negacionistas.
 
É praticamente um sacerdócio, aprender de novo, as novas rotinas e resgatar valores simples. Apaixonei-me por uma frase escrita não num livro, mas numa almofada: Luxo é ser simples.
 
Sei que dialogar com o desespero requer apenas racionalidade e afeto. Cada gesto, cada devoção e cada atenção só reafirma nosso apreço ao outro. Novo cuidado só acena com a preocupação em preservar saúde e vidas e respeitar sempre a dignidade humana.

Procure não ficar triste nem entediado. Procure ser útil e amável, exercitar a escuta ativa e mentalmente abraçar, acalentar, ouvir histórias, partilhar comentários, vivências e, enfim, recolher diariamente o orvalho de sabedoria, as primaveras expoentes e, semear a paz, e, principalmente, a transigência.
 
Precisamos humanizar tudo urgentemente e julgar menos. Absolver o contexto e buscar soluções possíveis. Não faça do desespero um companheiro atroz. Questione-o. Argumente e contra-argumente com astúcia, pois, afinal tudo irá passar.
 
As perdas serão recuperadas, as amizades e os medos serão sanados e, aprenderemos com o “novo normal” a sermos o que exatamente somos. Mais um ser vivo acuado por um vírus, uma pandemia e também por certos tipos de pessoas que transformam a vida num pandemônio.
 
Mas, se você sorrir da ironia de tudo. No incrível momento de crítica saudável, você irá perceber, enfim, que tudo é mais cômico do que propriamente trágico.
 
Desespero amigo proteja-se porque assim você protege o outro e, não rumamos para sobrevivência como uma espécie de bravura indolente ou simplesmente pelo luxo de ser simples e obstinado.

Abraços de sua companheira de trincheira, de guerra, pandemia ou revolução. Pois um inimigo invisível ao olho nu, mas que nos faz enxergar tanta coisa importante que antes negligenciava.
 
Perdoe-me a indecência da carta e a petulância da mensagem. Mas, por favor, nunca desista de tentar de novo. Tenha certeza que a resposta será a superação.
 
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 09/10/2020
Alterado em 09/10/2020
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