A sofreguidão, a pressa e a urgência são elementos desfavoráveis para o desenvolvimento de vacinas contra o coronavírus. E, os testes da vacina desenvolvida em conjunto pela Universidade de Oxford e pela empresa farmacêutica AstraZeneca foram suspensos após suspeita de ter havido efeito adverso em paciente
E, tal efeito foi descrito como sério segundo o artigo da Stat. Informou a AstraZeneca que a referida suspensão do estudo é ação rotineira e que sempre ocorre quando se verifica efeito inexplicado. Anvisa, no Brasil igualmente foi avisada da dita suspensão de testes da vacina.
Poucas horas antes, o General Eduardo Pazuello, Ministro interino da Saúde afirmara que tinha previsão que vacina chegasse já em janeira, para começar vacinar todo mundo.
No momento existem oito vacinas contra coronavírus em desenvolvimento já em fase três, que é a mais avançada. E, três dessas estão em teste no Brasil. Sobre o mesmo tema, o Presidente da República se manifesta contrário a obrigatoriedade da vacina.
O debate sobre a obrigatoriedade da vacina parece reeditar a revolta da vacina. Em meados de 1904, expressivo número de internações em face da varíola no Hospital São Sebastião. E, mesmo assim, camadas populares rejeitavam veemente a vacina. No país, o uso de vacina contra varíola fora declarado obrigatório para crianças em 1837 e para adultos em 1846.
Porém, essa resolução nem era cumprida, porque a produção de vacina em escala industrial no Rio de Janeiro só começou mesmo em 1884. Então, em 1904, Oswaldo Cruz motivou o governo a enviar ao Congresso projeto de lei para reinstaurar a obrigatoriedade da vacinação em todo país. De forma, que apenas os indivíduos que comprovassem ser vacinados conseguiriam contratos de trabalho, matrículas em escolas, certidões de casamento e, etc.
O discurso de Bolsonaro a respeito do tema que trata como se fosse mera questão de liberdade individual, bem como o uso de máscaras e manutenção do distanciamento social durante a quarentena, somente parece ser do liberalismo. Mas, não o é. Aliás, o liberalismo trata todas as pessoas iguais perante a lei. E todos são obrigados a respeitá-la indistintamente.
Fato que o bolsonarismo abomina, pois reiteradamente comete crime de periclitação à saúde pública em ocasiões públicas e, ainda, acusa de ditadores os governos estaduais que firmaram normas e regras recomendadas pelos sanitaristas.
Esse aliciamento do termo liberalismo e de liberdade não é algo inédito na história política brasileira. O ressurgimento da Nova Direita que propõe nacionalismo como ideal de governança global e, ainda mais dinamizado a partir da globalização. E que despreza os ritos da democracia liberal, a imprensa livre e, enfim, trata a política como tática de guerra.
O pior impasse do governo brasileiro atual é que pretender implementar o Estado mínimo e, ao mesmo tempo, promover o fascismo que são incompatíveis entre si. E, ainda mais, num cenário de pandemia de coronavírus. A liberdade a que alude Bolsonaro não é a dos liberais.
Por ser negacionista fanático, Bolsonaro entende que a obrigatoriedade da vacina contra Covid-19 fere as liberdades individuais. O que é, por si só, um paradoxo.
Pois, se nem jornalistas podem perguntar-lhe sobre o depósito de Queiroz na conta de Michele, como pode defender as liberdades individuais? Esboça o ex-militar numa linguagem de baixo escalão que não configura exercício de liberdade de expressão e, sim, injúria e grosseria.
Afinal, o bolsonarismo só enxerga liberdades para ignorar direitos alheios. No mantra já velhusco e conhecido: “Manda quem pode e obedece quem tem juízo”. Aliás, com o afastamento judicialmente decretado de Witzel do Governo do RJ, há uma esperança no horizonte dos imbróglios da família bolsonariana.