Milhões de ideias, sentimentos atropelados por frases sem sentido. Por sentenças condenadas a ecoarem pelo espaço. Até chegarem a algum ouvido atento. E, perante sujeitos quase tão intensos quanto as emoções acumuladas por anos a fio. Milhões de situações presenciadas por olhos, coração e, alguma alma copiosa que penetra em tudo... E, suga valores, conhece princípios, procura trilhas mas mesmo assim se perde. Mente milionária não tenho. Minha relação com dinheiro é um tanto paradoxal. Por vezes, me sinto mal perante as misérias mais comezinhas. Triviais que nos faz se sentir uma capitalista canibal e sem perdão. Um dia acompanhei com atenção uma senhora idosa que contava muitas moedas numa farmácia. Precisava do remédio. Era para hipertensão arterial. Faltam apenas dois reais. Tentou negociar em vão com a moça da caixa. Deixei ela se afastar frustrada e cabisbaixa. Eu era a próxima da fila. Aliás, a fila virou um fenômeno social virótico da pandemia. E, aí, falei para moça que eu completava a diferença, mas que ela não dissesse para a idosa. A moça concordou, chamou-a de volta... Disse que faria-lhe um desconto de ocasião. E, então, ela entregou todas as moedas que tinha numa bolsinha mínima. Voltando às suas mãos, doravante vazia. Entregaram-lhe o remédio comprado. E, então ela saiu como estivesse com um troféu dourado e com ar de alívio estampado nas rugas de sofrimento. Muitas pessoas têm mais do que merecem. Outras pessoas têm menos que merecem. Quem errou? Quem acertou? Qual balança é capaz de mensurar tal habilidade? Sinceramente, desconheço. Mas, espiritualmente, a mente milionária deve ser aquela capaz de não ver o mundo reduzido à números, estatísticas e ganhos fartos. Senão terá acumulado tão somente milhões de coisa nenhuma.