A noção de ressentimento veio da ideia dos tempos homéricos e da aristocracia guerreira. Foram os aristocratas gregos que criaram o valor bom. Surgiu a partir da lógica de autoafirmação. Passado muitos séculos, a casta guerreira perdeu a supremacia para a classe eclesiástica. Os sacerdotes negavam os guerreiros, e por ser oporem a eles, se consideram bons.
Eis que há duas maneiras diferentes de se apresentar valores. Os sacerdotes colocavam uma moral dos ressentidos que surgiu no judaísmo e, foi aprofundada no cristianismo. Duas palavras de ordem entraram em pauta: ódio e vingança. Eis que os religiosos criaram o reino de Deus. Um feudo particular onde a nobreza não tinha glebas nem castelos. O homem do ressentimento é ampliado para esfera social. O ressentimento surge numa organização social, onde há o descompasso entre a situação social e a situação jurídica. Afinal, igualdade é meramente formal. Os ressentidos não são os menos favorecidos, são justamente aqueles mais abastados e que estão na esfera do poder. Até certo momento, eles eram os únicos privilegiados. Com a expansão do consumismo, os menos favorecidos passaram a ter acesso ao que antes era de exclusividade dos mais abastados. O ressentimento é uma emoção perdida. É um revés em nossa consciência. É o não decifrar do enigma, onde o sujeito é apenas mais um objeto das circunstâncias que urdem o invisível crochet do contexto. Minhas respostas preexistiam a mim. Meus valores foram esculpidos pela velha história e se transvestem de novas roupagens, porém, com o mesmo conteúdo de sempre... Precisamos livrar as pessoas de sua culpa genética. Pois, não somos culpados. Por vezes, nem somos conscientes da real dimensão das coisas e do multiverso onde estamos imersos e geograficamente presos aos contornos culturais, linguísticos e políticos. Agora, um vírus coroado vem operar a doce seleção natural.