É impressionante o mal-estar súbito que se instala quando estamos numa maldita sala-de-estar, aguardando um simples atendimento. É um teste vigoroso de nossa socialidade e paciência. Para mim, uma incursão nas Astúrias, pois sou confessadamente antissocial e, não sinto a menor vontade de interagir.
Olho de soslaio na vã esperança de ser brindada com indiferença ou, pelo menos, invisibilidade. Mas, não. Infelizmente, eu chamo a atenção. Sinto-me como carregasse uma enorme placa piscante de luzes de neon. Arre! Quem me dera ter um recurso mágico ou cenográfico da moita ou, pelo menos, o mimetismo dos lagartos.
Sentei-me na única cadeira vaga, aguardava ansiosa pelo atendimento do dentista, aliás, um tipo bonitão de feições nórdicas e olhos azuis. Fiquei preocupada com o tamanho de sua mão, naturalmente proporcional a sua estatura. Imaginei logo aquela manzorra a manipular o boticão, que mais parece um alicate medieval propício para torturas.
O dentista havia sido indicado pela minha irmã que, aliás, por ser meio insensível a dor, parecia não ser a melhor avalista. Mas, enfim, lá estava eu... Em plena pandemia de coronavírus, ter que ir ao dentista totalmente desconhecido.
Por que essa maldita obturação tinha que cair? Seria apenas lei da gravidade ou uma má sorte inesquecível? Arre... e o consultório lotado. Todos mascarados e nervosos. Faltava oxigênio. Não havia ar condicionado.
E, eu imaginava o vírus, esfregando as mãozinhas felizes... tanta gente para infectar de uma vez...
Uma senhora olhou séria para mim e, praticamente, profetizou: - Vou está com uma cara de dor. Eu sorri amarelo. Sacudindo a cabeça em assentimento. Porque eu odeio conversas ligeiras? Porque são inúteis, apenas por isso.