Não somos iguais as pessoas. Não sangramos quando furados. Não choramos quando magoados. Não possuimos olhos, mas insistimos em querer ver. Ambicionamos enxergar. Não somos alimentados pelos mesmos alimentos, feridos com as mesmas armas, nem sujeitos às mesmas doenças.Se nos envenerarem, não morremos. Porque, afinal, insistem em não ver nossas reles humanidades. Quem comete um preconceito, além de infrigir a lei e cometer um crime, insiste também em nos avaliar pela cor da pele, pelos dentes, pelas indumentárias, pelo sapato e, principalmente, pelo vocabulário. O mundo compra aparências e valoriza cascas e menos o conteúdo.
Antero de Quental, já dizia, um insulto é veneno que só funciona, se eu beber. Não aceite ser ofendido por entes preconceituosos. Não aceite a provocação. Não se deixe humilhar. Seríamos livres até dentro de uma casca de noz, se minha cabeça e consciência me permitissem... O que os outros disserem de mim, se referem a eles... em verdade, falam deles mesmos, revelam sua visão e, expõem publicamente a sua própria dor. Pior, diante da dor do outro que tanto reverbera, e assim, avidamente deseja disseminá-la, como poderemos acreditar e nos deixar afetar?
O comentário cruel sai justamente de uma alma combalida e amargurada. Que entende a diversidade como um acinte. As pessoas mais violentas são as que mais foram submetidas à exaustão à mesma prática predatória... não lhe sobraram humanidade, sensibilidade, não há vestígio de qualquer ser vivente e racional... É um animal combalido que urra por sua má sorte. Causa dor porque se alimenta da dor para concretizar o sonho de todo oprimido, o de ser o opressor.