Tempo cáustico
Olá. Sou eu, uma mensageira aleatória. Trago boas e outras notícias do mutiverso dessa galáxia decadente.
Olá! Seu olhar oblíquo nada dissimulado parece não me perceber. Sei de suas dores e angústias. Mas, o mundo continua a fazer rotações e translações. O sol continua aparecendo pelas manhãs e a mirar o orvalho sobre aquela rosa já nem tão branca assim.
Sei que nossos diálogos secaram como os outonos e deixaram folhas secas a flanar do alto das árvores até o irremediável chão. Mas, no chão moram as raízes...
Por vezes, choro por conta de sua indiferença. E, tento me consolar, ao ver-te ser tão neutro e isento de emoções nas cenas domésticas. Já não consegues mais disfarçar o desprezo pelas coisas banais.
E, vivemos com os ventos, diante da chuva, diante da tarde que vai morrendo sangrando.
Nossas tragédias diárias. Nossos remorsos pungentes. Olá, estou aqui. Se precisar de mim, pode procurar-me.
Vou lhe ajudar. Não vou lhe cobrar ônus e nem prestações vincendas ou vencidas. Não se sinta culpado das chagas afetivas que carregas e que já tatuaram sua alma inexoravelmente.
Posso lhe apresentar os eventuais lenitivos da existência e também da sobrevivência. Talvez não tão didaticamente como se espera. Afinal, ser mestre é apenas uma parte de mim, mas não toda... Sei que precisas de mãos atentas e corações generosos.
Mas, esperemos de você, ao menos, um leve sorriso... ou talvez uma breve consciência de que não estás a sós no claustro e na obrigação de resistir a causticidade do tempo.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 26/06/2020