Clamava alto a pobre mulher: - Misericórdia! Continuava a senhora em luto a clamar por benevolência e perdão. Mas, o senhor altivo e, proprietário do imóvel, afirmava retumbante: - Não posso manter inquilina que não honra os alugueres. Já se acumularam três meses. A pobre senhora chorava copiosamente, enquanto os serviçais do locador, colocavam suas coisas na calçada da rua. Não havia compaixão naquele coração proprietário. Os vizinhos, entreolhavam-se, nitidamente assustados. Pois, em grande maioria, todos eram inquilinos do impiedoso locador. Que já era idoso, contava com mais de setenta anos e possuía longa barba enbranquecida. Antes dessa cena dantesca, havia falecido quase há três meses, o marido que era o provedor. E, a senhora tentava em vão, não morrer de fome, costurando e fazendo pequenos serviços domésticos em casas alheias pela redondeza. Não conseguira reunir o numerário suficiente para pagar o aluguel. E, logo ante o vencimento do primeiro aluguel, procurou o locador, em sua casa, mas não fora recebida, nem pode deixar sequer um recado ou bilhete. Indicaram-lhe o endereço do advogado que era no Centro da cidade, bem longe do subúrbio onde morava. Ademais, nem saberia, ao certo, encontrar geograficamente o dito endereço. A pobre senhora desesperou-se, pois já havia feito uma caminhada que durou cerca de três horas de sua casa até a do senhorio. E, teria que voltar, sem ter tido a chance de se explicar. Ostentando um luto fechado, caminhava e já apresentava cansaço. Sentia-se uma autêntica "ovelha negra", pois nunca em sua vida, deixara de honrar um compromisso ou pagamento. Sentia que caminhava para o abate, para servir de oferenda aos deuses ou para selar acordos, pois os animais negros antigamente eram considerados como maléficos. Daí, derivou o hábito de alcunhar aqueles que se diferenciam por chocar ou desagradar aos demais, de "ovelha negra". Atravessava a ponte, sendo mais uma "sem-teto".