Somos, em nossa alma, uma tecelã, confirmou Lacan. No fundo, a mulher tece tanto para encobrir carências. É difícil definir a natureza da feminilidade e seus vestígios. Tecer significa exatamente o trançar as vicissitudes com as necessidades de ocupar espaços, exercer papéis, encarnar personagens e,principalmente,o de ser cuidadora.
Enfim, ao vestirmos nossos trajes, enfim, nos materializamos. A roupa pode ser chamada de véu, pois sintetiza com clareza, a nossa relação com o mundo e, faz ecoar a imagem que pretendemos assumir.
Ao olharmos os adornos femininos, conseguimos decifrar os sinais da alma humana, a transformação da beleza e, a proteção contra os olhares atentos e devoradores. Há nos romances riquíssimos em vestígios, ao descreverem o traje, a sedução pela imagem e toda uma elaboração semântica presente no humano.
É complicado ser mulher, pelo contínuo trabalho de reconstrução do amor e da feminilidade. É injusto viver em uma sociedade que nos molda justamente para o olhar e expectativa masculina.
O maior problema do modelo contemporâneo de feminilidade que conhecemos, é nos aprisionar dentro do ideal que não compreende ninguém e, ainda, por desejar ter o poder sociopolítico idêntico ao do homem.
Apesar de o cenário estar em constante mutação e o número de mulheres que são hoje chefes de família, só tem aumentado. Ainda assim, se espera que tenhamos comportamento submisso, passivo e doméstico.
Infelizmente, em nossa sociedade, o feminino não apenas é considerado secundário, mas igualmente, subalterno. Precisamos questionar os conceitos de masculinidade e feminilidade para apurar as capacidades emocionais e psicológicas de homens e mulheres. Precisamos ressuscitar a humanidade acima de tudo.
Precisamos enfocar com afinco a dignidade humana que não se detém em gênero, melanina, etnia ou casta social. Precisamos não amargar mais uma Vitória de Pirro. Enquanto apenas presenciarmos a fina sofisticação de renovados preconceitos.