A esmola do amor parece remediar a existência humana. Em verdade, sentimentos fluem mesmo inconscientemente. Apegamo-nos e relacionamo-nos em diversos níveis com pessoas e até objetos. De forma, que o afeto intrínseco na convivência humana é mesmo inexorável.
Se a dor e a lágrima aportam num ombro amigo e solidário, estas diminuem a sua força destrutiva. No entanto, se seu sofrimento é peremptoriamente ignorado por todos, tem-se a construção de alguém gravemente traumatizado e, em vias de desumanização.
Assim, os monstros são esculpidos dia-a-dia, bem diante de nossos olhos, mais precisamente diante de nossa indiferença. Ainda é possível ter empatia.
Mas, antes de tudo, precisamos resgatar sua humanidade, sua sensibilidade e, fazê-la entender que pode ser acolhida, ouvida e respeitada. E, não alvo de constantes negligências ou mero egoísmo.
Em momentos agudos de crise, o caráter malévolo se revela em sua faceta mais pérfida, sendo capaz de urdir as tramas mais absurdas, só para impingir ao outro, a dor que já sente e há muito tempo.
Não me considero a pessoa ideal para discorrer sobre perdão. Confesso enorme dificuldade de perdoar. Em geral, afasto-me em retidão e, faço de tudo para nunca mais cruzar o caminho de quem me feriu. Seria uma espécie de legítima defesa emocional.
Enfim, não se pode mensurar um sentimento tal como se mede um sapato. Não posso vestir um sentimento ou calcar o ressentimento. Porém, é possível, aos poucos, com afinco e solidariedade regar a semente do afeto, e fazê-la germinar mesmo em meio ao deserto e mesmo em cima de uma pedra. Ainda que haja efêmera existência, mesmo um pequeno amor pode escrever uma grande estória. Um pequenino amor pode significar uma enorme chance a sobrevivência humana.