O pior do debate não é apenas a radicalização de opiniões expostas, mas sempre o vácuo dos argumentos. Muito pouco racionalismo e realismo são utilizados e, predomina a violência e o ideologismo vulgar.
É preciso refletir sobre a natureza do debate na sociedade humana contemporânea. Critica-se a extremada polarização entre os dois lados antagônicos, enquanto isso, o Presidente, somado à falta de cordialidade e urbanidade torna a tensão cotidiana quase insuportável;
Sábio foi Tom Zé que definiu que "nosso país é doentiamente autocomplacente", e a polarização cada vez mais a promover erosão de um diálogo possível. Até no meio acadêmico prevalece frequentemente um relativismo cultural que torna difícil haver diálogo verdadeiro.
Todas as opiniões têm o igual valor, não importando em quase nada, a consistência com as evidências e a coerência interna das argumentações.
Roberto DaMatta nos ensinou que somos prisioneiros de fronteiras indefinidas "entre a casa e a rua", entre os códigos de honra e os laços pessoais e familiares e, ainda, as regras e leis da sociedade.
Aqui na rua é vergonhoso perder uma discussão e, portanto, ofensivo ganhar uma discussão. O mal do debate nas ruas e nas redes sociais sobre a atual crise incide sobre o provável impedimento do presidente. Mas, o pior é a superficialidade dos argumentos e o desinteresse em ouvir o outro.
Segundo Gianfranco Ravasi que palestrou sobra "A ética na Laudato Si1" que se refere a encíclica papal sobre as mudanças climáticas, aprendi que o diálogo não quer dizer apenas por intermédio (dia) de palavras (logos), mas que em grego dia, também significa passagem, movimento e aprofundar.
O Brasil precisa construir o diálogo, mais um impedimento presidencial poderá promover a derrocada final de nossa claudicante democracia. A ortodoxia e a linguagem violenta e desrespeitosa certamente não indicará as plausíveis soluções. Alguém diante da crise, precisa agir com maturidade suficiente para gerir o momento de tantas crises.
1.“Laudato si (“Louvado Sejas” em italiano, expressão que abre o “Cântico das Criaturas” que Francisco de Assis escreveu 8 séculos atrás) sobre o cuidado com a nossa casa comum” resume em 192 páginas os mais importantes desafios da Humanidade num mundo onde a espécie-líder, topo da cadeia evolutiva, “feita à imagem e semelhança de Deus”, vem a ser a principal responsável pela avassaladora onda de destruição dos recursos que sustentam a vida, e a própria Humanidade.