Hoje quero dançar um bolero.
Daqueles bolorentos
Com miúdos passos de gueixa tímida.
Compassados e cúmplices com a melancolia.
Hoje quero ouvir um bolero
Daqueles chorosos
Que riscam as faces com lágrimas
Que cristalizam orvalhos ao alvorecer
E quando as pernas estiverem bambas
Quando meu lirismo bêbado se esparramar
no horizonte
Os olhos galgarão ver infintio
e terá presságios
Meus ouvidos perceberão tambores
e o gongo irremediável do tempo
que simplesmente passa.
E, na matemática romântica de
dois para cá e dois para lá
Há o paradoxo geométrico do isolamento
de palavras crivadas em silêncio e,
de silêncio repleto de palavras
e discursos.
E, de poesias sub-reptícias
que jazem nas pálpebras,
nas mãos dormentes de tanto escrever,
na alma jactante que grita em metafóras
e canta em metonímias.
Hoje quero dançar aquele bolero
de mil promessas,
de mil cristais com vinho tinto de sangue;
de mil e uma noites de narrativas e peripécias;
de mil cubas libres
Com castanholas.
E, a saia rodada e o carmim auspicioso
desejando ser sedutor.
E, pior, seduzindo vulgarmente
com palavras sussuradas como
acalanto.
Depois de toda dança e poesia.
Adormecerei.
Sonharei com toda melodia a
irrigar minha alma,
com alguma esperança.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 06/05/2020
Alterado em 06/05/2020