Então, esqueça. As palavras ruins e insanas da hora do desespero. As acusações levianas feitas na hora do sangrento final. Esqueça que falhamos.
E, se lembre apenas do quanto fomos felizes em algum momento. Ainda que apenas no imaginario. Ainda que idealizado. Ainda que sejam reticências em torno do abismo. Então, esqueça minha cara amarrada em nós indissolúveis. O sentimento tão travestido de afeto-possessão. Se pudesse, guarda-lo-ia na gaveta. Trancava à chave. E, jogaria a chave fora. Derretia todos seus segredos em minhas lágrimas. Sepultava todas as lembranças na terra santa das saudades. Tempos que não voltam. Sentimentos que não reprisam. Perguntas que foram respondidas por silêncio. E, lá fora, a badalada dos sinos da Igreja a repicar solenemente todo o esquecimento. Se esquecer, é perdoar? Não sei. Se perdoar é esquecer, também não sei. Mas, o autêntico esquecimento é uma certidão de óbito poética e pacífica. Por vezes, não é percebido, somente o agente protagonista sabe. Pois matamos em vida toda a essência humana contida. Por vezes, é uma saída honrosa que leva à um horizonte vasto, enigmático e desconhecido.