A Elite em tropa
Assisti ao tão polêmico filme chamado “ Tropa de elite” de José Padilha e Marcos Prado que tem aferventado calorosos debates, dividindo opiniões entre aqueles que aprovam e os que repudiam.
É pertinente o que foi realçado pelo Arnaldo Jabour a respeito do filme, aliás, deve ser opinião balizadas posto que é também cineasta, pois se evidencia que o filme é muito próximo daquilo que conhecemos como documentário.
O protagonista da história e também narrador esquadrinha com precisos golpes certeiros a realidade urbana e criminal da cidade do Rio de Janeiro. Realidade nua, crua e dura. Cabe elogiar a ótima atuação de Wagner Moura, que sabe fazer bem mais que mero vilã da novela das oito.
Como pano de fundo aborda não somente a corrupção policial mas sobretudo o imbricado cenário político mais agitado pela chegado do papa no Brasil. Também aborda a atuação de uma ONG e, seu trabalho engajado nas chamadas “comunidades” culminando com o trágico fim dos jovens que estavam a frente do trabalho social.
Algumas frases pinçadas são bastante pertinentes e vale a pena reprisá-las: - Acabar a guerra, só desarmando; - ao policial (...) ou se corrompe, ou se omite ou vai pra guerra; - a paz depende de um equilíbrio delicado (...).
Ainda discute com certa ironia temas como “consciência social”, fragilidade expugnável dos moradores da favela, as dores e mazelas agudas esculpidas continuamente pela miséria e, a falta de política social competente.
Outro ponto crucial do filme foi mostrar escrachadamente a falta de estrutura operacional da polícia, principalmente quando aborda a oficina mecânica da PM.
Boa parte da truculência do filme mostra de um lado a polícia atuando, e os marginais do outro. Logo, na primeira cena do filme, o cenário é um baile funk que vira praça de guerra, o que me lembra a morte do Tim Lopes.
Também cogita de certa “justiça torta” engendrada por dois aspirantes que trancam o “Robin Hood” e, desviam o dinheiro da propina para compra de peças automotivas para conserto das viaturas policiais. O que é o fio da meada de todo filme.
O filme aponta cenas do treinamento para admissão para BOPE onde se trava uma autêntica “guerra do Vietnã” que se espalha por muitas das setecentas favelas do Rio de Janeiro.
É válida a sentença que diz que são os viciados e os usuários que bancam o poderio dos traficantes e toda a opressão vivida nas favelas e bairros pobres da cidade carioca. Por isso, seria hora de se cogitar na descriminalização das drogas, como uma boa alternativa de anistia.
Isso já revelou condenações a algumas corporações pelo exacerbado regime a que estão submetidos. O mocinho e herói começa ficar abalado emocionalmente e, é encaminhado à Psiquiatria, revelando assim o encurtamento da carreira do combatente.
O filme é acompanhado quase complementamente por uma narrativa maniqueísta e até machadiana, vez que revela até o íntimo psiquismo dos personagens. Naquela grande coragem reside ao lado do medo e certeza da morte.
Sob a tensão de horas a fio e vivenciando intensamente situações-limite, qualquer ser humano se fragiliza... Talvez seja exatamente esse ponto onde está a qualidade do filme de demonstrar fragilidades de ambos lados.
Para sobreviver na selva urbana precisamos bem mais que questionamento em aberto. A própria abordagem da universidade que se revela tacanha em seu papel conscientizador, cogita o filme da aula, onde se trata de Foucault e, perspicaz aponta para o jogo de poder.
O sistema leva as pessoas a loucura, e desesperadas, sem equipamento adequado e nem apoio psicológico e/ou médico fica irrazoável exigir mais do que já temos. Precisamos alterar o sistema, precisamos humanizar o sistema para que seja possível alguma sobrevivência digna na selva urbana.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 12/10/2007
Alterado em 21/03/2009