"O homem tem partes mágicas... São as mãos... Eu sei." A obra de Guimarães Rosa nos apresenta um regionalismo com novo significado que é a feliz fusão do real e o mágico. De forma a apresentar os processos mentais e verbais, o que traz o caráter universal muito além folclórico, pitoresco e até
mesmo documental. Representa um novo modo de pensar as dimensões da cultura humana, flagrada pela preciosa articulação da linguagem. O autor aproveitou suas experiências vividas em viagens pelo sertão brasileiro, particularmente, o mineiro, onde registrava palavras, expressões e contextos que transformou em maravilhosas metáforas poéticas. O estilo do autor prossegue abolindo propositualmente as barreiras existentes entre a narrativa e o lirismo, revitalizando a expressão poética trazendo aliterações, onomatopeias, rimas itnernas, elipses, cortes e deslocamento sintáticos, perfazendo um ímpar vocabulário não só repleto de neologismo como também imerso numa musicalidade sertaneja, o que nos faz lembrar as cadências populares e até medievais. Escrita em 1937, a obra "Sagarana" foi submetida a um concurso literário (Prêmio Graça Aranha, da Editora José Olympio) em que ficou em segundo lugar. O autor usou o pseudônimo de Viator, que, em latim, significa "viandante". A obra trazia quinhentas páginas.
Com o tempo, foi reduzida para cerca de trezentas e publicada em 1946. Seu título é um hibridismo (união de dois radicais de línguas distintas): "saga", de origem germânica, significa "canto heróico"; e "rana", de origem indígena, quer dizer "à maneira de" ou "espécie de". E, começa assim: "Lá em cima daquela serra, passa boi, passa boiada, passa gente ruim e boa, passa a minha namorada.".