lirismo
no dia havia saudade da noite
na noite sem estrelas havia a solidão da lua
na tarde rubra
havia remorso pela preguiça
o corpo entregue a cama
sem tempo,
sem pressa,
nos lençóis sigilosos
que percorriam meu cansaço
havia tanto segredo num só dia
havia tanto rancor num só peito
que as reticências eram impropérios
durante a noite
carcomia minha raiva
olhando paredes, procurando livros
citações inúteis
de uma memória torpe
durante a madrugada
espreitava o primeiro raio da manhã
escorregando delicadamente a luz do sol
dourada e esguia penetrando pelas
frestas da porta,
pelas nesgas da cortina
o silêncio se torna alarido de passos
de carros, de estalos desconhecidos
a poesia se torna mito indevassável
desafio diário e triste
de quem sente saudade
de tudo que já passou
o dia não se repete,
a saudade não volta
e, no peito a congestão
poluída só faz doer
de tanto lirismo.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 11/10/2007
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