Os ditadores reciclam títulos do passado. Foi o caso de Benito Mussolini que determinou que seria chamado de Duce, que deriva do latim
dux e que significa guia.
E, seu pupilo Adolf Hitler, copiando o ditador italiano, imitava a saudação romana, com braço direito erguido, e era denominado de Führer
[1] por seus seguidores antes mesmo de alcançar o poder na Alemanha em 1933. A palavra em alemão significava líder ou guia. Mas era formalmente o Führer e Chanceler do Reich.
Já na Romênia, o título ao ditador era
Conducator (condutor) que foi usado pelo Íon Antonescu durante a Segunda Grande Guerra Mundial e, mais tarde, pelo derradeiro ditador comunista chamado Nicolae Ceausescu.
Nos tempos da Guerra Fria, o ditador marxista era Josip Broz Tito, que era alcunhado de
Marsal, ou Marechal pois esse era seu título ou patente militar.
Francisco Franco
[2] outro ditador de direita da Espanha, se autodenominava de
El Caudilho (O Caudilho). O ditador paraguaio, por sua vez, José Gaspar Rodríguez de Franci, governou entre 1814 a 1840 sendo chamado de
El Supremo.
As denominações seguiam e ainda seguem o tamanho do ego do ditador. Aliás, o de Uganda, Idi Amin Dada, seus títulos eram vários, como: Sua excelência, Presidente vitalício, marechal de campo, doutor, lorde de todos os animais da Terra e peixes dos mares, conquistador do Império Britânico na África em Geral e na Uganda em particular.
Na República Dominicana, o general Rafael Leónidas Trujillo Molina, que governou o país nos anos 30, 40 e 50 era chamado de Benfeitor da Humanidade, e Pai da Pátria Nova e Primeiro Jornalista da República. Aliás, esse último título era devido ao fato de ter comprado o Jornal
La Nácion, da capital da república Dominicana.
Na Coreia do Norte que segue uma ditadura hereditária, Kim Il-Sung e Kim Jong-Il usaram títulos como Grande Líder e Querido Líder, respectivamente. O neto do fundador da ditadura ainda usa o título de Líder Supremo.
Os ditadores também apreciam
slogans e frases de efeito. Foi o caso do slogan alemão
Deutschland über alles (Alemanha acima de Tudo)
[3] que embora fosse um verso de um velho poema, fora incentivado em seu uso pelo ditador do Terceiro Reich, o nazista Hitler.
Outro dístico de Hitler foi "Acorda Alemanha!". Depois de chegar ao poder, o que era paradoxal, pois em geral, os ditadores não desejam que ninguém acorde.
A ditadura fascista do português de Antonio de Oliveira Salazar
[4] (1932-1975) foi marcada pelo tom melodioso e religioso, além de propor isolacionismo e extremo nacionalismo. Usou três slogan simultâneos. Deus, pátria e família. “Orgulhosamente sozinhos” e “Tudo pela nação, nada contra a nação”.
O cubano Fidel Castro tinha um precioso arsenal de slogans e um dos mais famosos, era "Até a Vitória, sempre!" Era igualmente paradoxal, pois apesar de anos no poder, tratava como se a revolução ainda não tivesse conquistada a vitória. De sorte que a ditadura do proletariado precisava bloquear por maior tempo as liberdades individuais.
Outro slogan era de Che Guevara, que mesmo após seu óbito, tornou-se o propagandista do regime de Castro.
Hay que enderecerse, pero sin perder la ternura jamás. Numa vã tentativa de argumentar ou justificar que é possível
ser totalitário e, simultaneamente, recitar uma poesia. E, ser assim, terno no ato de exercer a ditadura.
Os ditadores também criaram curiosas denominações para sua ditadura. Aqui no Brasil, o Golpe de Estado, foi batizado com Revolução Redentora
[5]. Enquanto que na Argentina em 1976, o General Jorge Videla colocou o nome de Processo de Reorganização Nacional, mais conhecido apenas como o Processo.
No Chile, o General Augusto Ramón Pinochet
[6] escolheu termo mais genérico, e optou o nome de Junta de Governo. Já, em Portugal, Salazar colocou o nome de seu regime de Estado Novo, aliás, o que serviu de inspiração para o
ditador brasileiro Getúlio Vargas.
Na Grécia, o berço da democracia, conheceu o ditador e general Ionnis Metaxas que chegou no poder em 1936 e instaurou um regime de extrema direita que fora batizado de Terceira Civilização Helênica. Tal qual fez Hitler ao criar o seu Terceiro
Reich, pois considerava que só havia existido apenas dois
Reichs anteriores, a saber: o Sacro Império Romano-Germânico e o Império Alemão.
Na ditadura de Mussolini a frase mais habitual era “Mussolini tem sempre razão”, sendo um dos principais
slogans do regime fascista
[7]. E, com essa frase, os militantes interrompiam qualquer debate. Aliás, Mussolini era falante e expressava impressionantes absurdos e seus militantes aplaudiam esfuziantes. E, o raciocínio era o seguinte: “Se ele chegou ao poder e comandar o país, ele sabe sobre tudo".
A história da humanidade registra a existência de diversos líderes totalitários e ditadores tentaram vincular seus governos com o Além. Então, eles se muniam de poderes sobrenaturais tanto que
Duce Mussolini contava afirmar três elementos estavam intensamente atrelados, a saber:
Dio Patria Famiglia. Ou seja, Deus. Pátria Família.
O ditador Robert Mugabe
[8] que governou o Zimbábue entre 1980 a 2017 para justificar a ausência de democracia em seu país, chegou afirmar que somente deus, que o colocou no poder, poderia removê-lo.
Já o ditador norte-coreano durante muitos anos, seus porta-vozes sustentavam que não defecava, pois sua anatomia
era celestial.
Houve ditaduras e ditabrandas, termo que foi criado em 1930 pelo general Dámaso Berenguer que substituiu o General Miguel Primo de Rivera no comando da ditadura fascistoide na Espanha. E, para convencer a opinião pública de que seu regime seria mais leve do que o anterior, definiu-se como ditabranda
[9]. Mesma terminologia fora usada pelo sanguinário General Pinochet para definir seu regime.
Nesse mesmo sentido existiu uma expressão bem similar, a ditadura benevolente que foi usada por vários ditadores que aparentemente tinham maior leveza e permitiam que algumas liberdades individuais em comparação com outros regimes totalitários. Foi o caso de Tito na Iugoslávia que era conceituado por simpatizantes estrangeiros.
A Era Stálin ou Stalinista
[10] foi dominada por Josef Stálin, quando havia um Estado totalitário, modelado por um líder que tinha todos os poderes e buscava reformar a sociedade soviética, com planejamento econômico agressivo, especialmente, com uma varredura da coletivização da agricultura e do desenvolvimento do poder industrial.
Aliás, a Segunda Guerra Mundial ficou conhecida pelos soviéticos como A Grande Guerra Patriótica, e devastou grande parte da URSS, com cerca de uma em cada três mortes, sendo um cidadão soviético.
Com o fim do conflito, os exércitos soviéticos ocuparam a Europa Oriental, onde instalaram-se os governos comunistas, e permaneceram no Bloco do Leste, enquanto que os EUA mantiveram sua influência na Europa Ocidental, onde os governos democráticos foram estabelecidos.
Stálin em seu trabalho mais famoso, foi um artigo publicado sob pseudônimo, derivado da palavra russa aço (
Stal), e o ditador reteve esse nome pelo resto de sua vida, quando estabeleceu sua reputação entre os bolcheviques.
Uma das frases de impacto de Stálin foram: _ “Devemos aprender a odiar nossos inimigos”; “A morte resolve todos os problemas - sem homem, sem problema”; “Líderes vão e vem, mas o povo permanece. Apenas o povo é imortal”.
Será? A estória se repete
[11] ...
[1] A palavra em alemão significa condutor, líder ou chefe e deriva do verbo
führen (que se traduz como "para conduzir"). O vocábulo ainda permanece no uso comum no alemão, porém, está tradicionalmente associada a Hitler, que a usou para se designar líder da Alemanha Nazista. Em julho de 1921 o partido nacional-socialista adotou o princípio da liderança ou
Dührerprinzip que constituiria a primeira lei do partido nazista.
[2] A ditadura franquista foi o período da história da Espanha do governo do Generalíssimo Francisco Franco Bahamond, o Caudillo. Aliás, generalíssimo advém do latim
generalissimus sendo uma patente militar bastante exclusiva. O termo é para descrever generais do exército cujos cargos foram bem além do normal que era permitido pelas patentes castrenses. Em geral, é utilizado para descrever generais que foram igualmente Chefes de Estado.
[3] É o primeiro verso de uma canção nacionalista intitulada Das Lied der Deutschen (A canção dos alemães) que foi composto em 1841 por August Heirich Hoffmann. A melodia é a mesma de Gott erhalte Franz, den Kaiser, uma composição de Joseph Haydn de 1797 para o Imperador Francisco I da Áustria. O real motivo da composição do poema foram as reivindicações territoriais francesas. Em 1849, o governo francês reivindicava que o Rio Reno voltasse a ser a fronteira oriental do reino francês, dando origem à famosa Crise do Reno com a Confederação Germânica.
[4] O Estado novo de Salazar para alguns historiadores que também chamam de Segunda República Portuguesa, por exemplo, a História de Portugal de José Hermano Saraiva e a obra homônima de Joaquim Veríssimo Serrão. A designação oficial de "Estado Novo" foi criada sobretudo por razões ideológicas e propagandísticas, serviu para assinalar a entrada num novo período político aberto pela Revolução de 28 de maio de 1926 que restou marcado por uma concepção presidencialista centralizadora e autoritária, além de antiparlamentar de Estado. Assim, esse Estado Novo encerrou o período do liberalismo em Portugal, abrangendo neste não apenas a Primeira República, mas também o Constitucionalismo monárquico. A ditadura nacional (1926-1933) e o Estado novo de Salazar e Marcello Caetano (1933-1974) foram, conjuntamente, o mais longo regime autoritário na Europa Ocidental durante o século XX, estendendo por um período de quarenta e oito anos.
[5] Em 31 de março comemoramos o aniversário do movimento que derrubou o governo de João Goulart e instaurou o regime militar de 1964. É período da história brasileira ainda muito cercado de controvérsia, a começar pela definição do que realmente ocorrera. Para os militares, houve uma Revolução cujos objetivos principais seriam restaurar a ordem pública e controlar a indisciplina nos quartéis além de impedir a tomada do poder pelos comunistas. E, por esse ângulo de visão, tratou-se mais propriamente de uma contrarrevolução. O Golpe de Estado de 1964 designa o conjunto de eventos ocorridos em 31.03.1964 no Brasil que culminaram no dia seguinte, primeiro de abril, com um golpe militar que encerrou o governo de Jango. Os militares brasileiros na época favoráveis ao golpe e, em geral, os defensores do regime instaurado em 1964 costumam designá-lo como Revolução de 1964, Contragolpe de 1964 ou Contrarrevolução de 1964. Todos os cinco presidentes militares que se sucederam desde então, se declararam como herdeiros e continuadores da Revolução de 1964. Segundo vários historiadores, houve apoio ao golpe por parte de segmentos importantes da sociedade: os grandes proprietários rurais, a burguesia industrial paulista, uma grande parte das classes médias urbanas (que na época girava em torno de 35% da população total do país) e o setor conservador e anticomunista da Igreja Católica (na época majoritário dentro da Igreja) que promoveu a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, realizada poucos dias antes do golpe, em 19 de março de 1964.
[6] Augusto José Ramón Pinochet Ugarte (1915-2006) foi general do exército chileno e ditador do Chile no período de 1973 a 1990, servindo posteriormente como senador vitalício, cargo que fora criado exclusivamente para ele, por ter sido ex-governante. Considerado um ícone para a direita e um déspota para a esquerda, deixou vasto legado que permanece controverso no Chile. A brutalidade da repressão política e a perseguição a dissidentes trouxe condenação internacional ao ditador. Após deixar a presidência, foi alvo de mais de 300 ações criminais que vão desde casos de corrupção até assassinato.
[7] Entre as frases de impacto de Mussolini, destacamos: Se eu progredir, siga-me; Se eu morrer, vinga-me; Se eu recuar, mata-me!; A minha fórmula é simples: quem não dá, não recebe.; A liberdade é um cadáver putrefato.; Somente um país inferior, ordinário, insignificante, pode ser democrático. Um povo forte e heroico tende para a aristocracia.; “A religião é uma doença psicológica do cérebro.”; Mussolini foi um dos fundadores do fascismo, que incluía elementos de nacionalismo, corporativismo, sindicalismo nacional, expansionismo, progresso social e anticomunismo, combinado com a censura de subversivos e propaganda do Estado. Nos anos seguintes à criação da ideologia fascista, Mussolini conquistou a admiração de uma grande variedade de figuras políticas.
[8] Robert Gabriel Mugabe é político do Zimbábue e liderou seu país inicialmente como primeiro-ministro, de 1980 a 1987 e, depois serviu como presidente com poderes executivos totais até novembro de 2017, quando foi afastado do cargo pelos militares.
Nos anos dos seus mandatos, Mugabe, sendo um marxista que se afastou completamente dos seus ideais com o fim da União Soviética, deu seguimento a um conjunto de políticas de carácter socializante, nacionalizando várias indústrias ao mesmo tempo que expropriava várias terras dos seus proprietários originais e seguia os seus planos de aumento de impostos e de controlo de preços, alastrando assim o controle do estado sobre os diversos setores da economia. Promoveu investimentos no setor educacional e elevou a qualidade de vida do Zimbábue a níveis anormais para países emergentes.
Em 1991, promoveu um programa de austeridade visando absorver os profissionais graduados do sistema educacional, com o auxílio logístico e financeiro do FMI, o que resultou em uma queda brusca no estilo de vida da maioria pobre. Resultando em uma marginalização crescente da população, o programa foi cancelado pelo FMI.
[9] Dictablanda ou ditabranda significa uma ditadura branda, sendo termo cunhado de maneira popular na Espanha de 1930 quando o general Dámaso Berenguer substituiu o General Primo de Revera no governo ditatorial. Lembremos que o golpe militar no Brasil em 1964 alimentou na política uma série de outras ditaduras na América Latina.
Assim, as ditaduras vitimaram o Chile e o Uruguai em 1973. E, depois, na Argentina em 1976. E, tais golpes foram se sucedendo na região, sempre contando com o apoio logístico e político dos EUA e do Brasil, E, os documentos sobre a Operação Condor fornecem fartas evidências dessa relação. Depois de um endurecimento inicial, posaram de ditabranda.
O então novo autoritarismo latino-americano foi inaugurado por Alberto Fujimori no Peru, e o líder era eleito vindo a minar as instituições e os controles democráticos paulatinamente. Entre os juristas que se indignara com a expressão prosaica "ditabranda" estiveram algumas personalidades, como os Professores Fábio Konder Comparato e Maria Victoria Benevides em carta publicada pelo Jornal Folha de São Paulo.
[10] Apesar de ser considerado por muitos historiadores um personagem malévolo na história da União Soviética, por outros, porém, é ainda considerado como o principal líder e que trouxe diversos benefícios. E, mesmo Roy Medvedev, um ardoroso crítico de Stálin, afirmou que antes de seu governo, o país convivia com a força do arado primitivo e, décadas posteriores, o país passou a conviver com os ruídos de reatores nucleares, de forma a estampar o célere desenvolvimento da URSS.
O pesquisador Robert Conquest recentemente reviu sua estimativa original de 30 milhões de vítimas para cerca de 20 milhões, afirmando ainda ser muitíssimo pouco provável qualquer número abaixo de 15 milhões de vidas ceifadas pelo regime de Stálin.
[11] Segundo o Coronel Fernando Montenegro a origem do slogan “Brasil acima de tudo” advém dos paraquedistas do Exército. Sendo uma saudação dita logo ao entrar nas unidades paraquedistas se dizia: Brasil! E a Guarda respondia: "Acima de Tudo". Sendo apenas um brado nativista.
Alega o dito Coronel que esse
slogan remonta ao período após de 25 de julho de 1966, quando ocorreu explosão de uma bomba no Aeroporto de Guararapes (Recife) o que desencadeou diversos atentados terroristas no Brasil, numa fase de maior tensão da Guerra Fria no mundo. A origem do
slogan advém de um Grupo chamado de “Centelha Nativista”. (Disponível em:
https://jornalhoraextra.com.br/coluna/de-onde-vem-o-slogan-brasil-acima-de-tudo/ ).