"O conhecimento é o mais potente dos afetos: somente ele é capaz de induzir o ser humano a modificar sua realidade." Friedrich Nietzsche (1844?1900).
 

Professora Gisele Leite

Diálogos jurídicos & poéticos

Textos



 
Há realmente novos costumes que surgiram na frenética cibercultura[1]. Apesar de que tal multiverso ainda é influenciado por uma sociedade conservadora e sob a ótica e leitura de valores oriundos da modernidade, com raízes na lógica analógica.
 
De fato, é um concreto desafio conciliar o contexto cibernético e o moderno, sendo que naturalmente surgem conflitos bem como é intrigante a formação da sociedade harmônica sem que isso signifique erigir um óbice aos crescentes progressos registrados pela evolução científica.
 
 A era contemporânea notabiliza-se por não oferecer rigores conceituais, o que oferecer rigores conceituais, o que nos força a refletir sobre um novo ethos que se amalgamou exatamente na sobreposição geracional.
 
A cibercultura não se libertou de seu legado[2] analógico. O contexto contemporâneo é composto pelo entrelaçamento de diferentes ciências juntamente com as inovações tecnológicas anteriores e que francamente viabilizaram o surgimento da maioria das novas tecnologias.
 
Registram-se notáveis progressos nas áreas como o eletromagnetismo, metalurgia, química, genética e tantas outras áreas e, o smartphone tornou-se o novo ícone da nova cibernética que se encontra integrada em nosso cotidiano.
 
Uma das perguntas mais feitas e que insistimos em fazer é: Qual o sentido de tudo isso? Somos uma reles pequena faísca em meio de um planeta, que está nesse multiverso, infinitamente ainda maior.
 
Afinal, por que a investigação sobre qual deve ser a melhor forma de viver não pode prescindir da reflexão sobre qual a nossa razão de existir?
 
Qual é a causa primeira de todas as coisas? Quando se dá exatamente a chegada da alma ao corpo? Será que Espinosa tinha razão quando abriu sua Ética com as origens de Deus e da alma?
 
Obviamente todas as ponderações sobre nossa origem são especulativas até mesmo aquelas tomadas hoje pela ciência como as mais prováveis.
 
No fundo, todos os princípios morais caminham para o fim de tudo. Que pode ou não coincidir com a extinção da finitude, a depender do pensador invocado.
 
Platão, certa feita, disse e, suas palavras foram recuperadas por Montaigne, in litteris: “Filosofar é aprender a morrer”.
 
O homo ciberneticus está ainda imerso em valores conservadores que foram pontuadas por uma sociedade analógica. As ferramentas tecnológicas tão úteis para executarmos as tarefas rotineiras passaram (in)conscientemente a ser autênticos apêndices de nossa existência. E os conflitos geracionais ao lado da velocidade das mudanças passam a ser generalizados e seletivos.
 
E os que são desafiados a se adaptar às essas inovações, passaram a sentir a necessidade de uma nova ética, um novo ethos capaz de ser conciliadora com os valores da cibercultura, calcados no nanossegundo e com a sociedade mesodigital ou meso-analógica posto que detenha poderes político-econômicos e militares e, que somente aparentemente opõe-se diametralmente aos valores da geração insurgente.
 
Algumas respostas voltadas a maioria dessas cruciais questões, só deverão se apresentar no futuro, através de olhar observador e reflexivo de historiadores.
 
Precisamos nos munir de repertório necessário para escolher a melhor forma de conciliação, ao invés de sermos apenas plateia ou meros cúmplices de conflitos tópicos.
 
Confirma a história que as inovações técnicas e tecnológicas tendem a promover substanciais transformações em quase todas as áreas da existência humana.
 
Desde a invenção da roda e do domínio do fogo por nossos ancestrais, até as mais recentes tecnologias de informação e comunicação passando pela invenção da roda e os onipresentes aparelhos eletrônicos, tais como smartphones (telefones celulares inteligentes), computadores, câmeras digitais e toda sorte de inteligência artificial[3] que nos atinge de forma indefectível.
 
A duração da vida agora dourada pelo domínio do fogo e acalentada por seu calor, embalada pela forte dinâmica da roda, ainda mais iluminada pelo conhecimento e a comunicação imediata e instantânea.
 
Assim aprendemos a defender territórios, a proteger propriedades, a cozinhar alimentos, a transformar as matérias, a inspirar confiança, a pleitear a justiça e providências junto às repartições públicas, senão a igualdade, ao menos existe a equidade.
 
Enquanto a igualdade se refere às situações idênticas e equivalentes para todas as pessoas e situações. Já a equidade tem sua origem o vocábulo latino aequitas e que se refere à capacidade de apreciar e julgar com retidão, com imparcialidade e principalmente e por atentos para as peculiaridades de cada caso concreto.
 
A equidade significa a justiça natural, a disposição para reconhecer imparcialmente o direito de cada um, considerando o relacionamento entre os indivíduos em seu meio.
 
As inovações mais recentes e nem tão antigas como o domínio do fogo ou a criação da roda tal qual a invenção do telégrafo no começo do século XIX e do rádio, já na virada do século XX, mudaram profundamente nossa concepção e percepção de espaço e de tempo ao permitir a comunicação instantânea.

Vale lembrar que o paradigma dos telégrafos ainda é útil e serve de paradigmas para redes físicas de dados, e mesmo as fibras ópticas e toda a atual estrutura de telefonia celular, a comunicação de satélites, o wi-fi[4], o bluetooth[5] e continuam a usar as ondas do rádio.
 
Afinal é a combinação de ciências entrelaçadas com diferentes inovações tecnológicas que viabilizam o surgimento de novas tecnologias revolucionárias.
 
Sem o progresso científico não teria sido possível criar o fio de cobre componente mais básico e fundamental para toda invenção elétrica e eletrônica e de toda tecnologia presente em nossa realidade contemporânea.
 
O ethos contemporâneo com suportes teóricos nas concepções de Agamben, Bauman e Vaz, entre ouros pensadores sobre a possibilidade formativa e de construção da comunidade humana. E, que apesar dos diversos conhecimentos produzidos na atualidade, crescem as dificuldades de compreensão da condição humana e do real significado dos fazeres humanos.
 
A aposta na essência metafísica, põe xeque a questão da identidade pessoal e traz complexidade aos contextos educacionais para que sejam capazes dinamizar as bases ontológicas com diferentes bases conceituais e vivenciais.
 
A formação desse ethos destaca a racionalidade técnico-científica que gerou a despreocupação com a harmonia de valores éticos voltados para o bem comum e a individualização que fomentou a descrença em políticas democrático e, ainda ceifou a esperança da formação de um ethos solidário.
 
Devemos repensar a constituição ontológica do humano como principal premissa para reconstituir a relação entre “eu e você” e “eu e a humanidade”, tratando a compreensão do outro(alteridade) como a aceitação da pluralidade de perspectivas de novas vivências, e formas relacionais.
 
Pois educar é vivenciar laços de sensibilidade racional, social e para construir comunidades nas quais a amizade e o afeto sejam os esteios para a perpetuação da espécie.
 
 
 
[1]Cibercultura é a cultura que surgiu e, ainda surge a partir do uso de rede de computadores, e de outros suportes tecnológicos (como, por exemplo, o smartphone e o tablet) através da comunicação virtual, a indústria de entretenimento e o comércio eletrônico, no qual se configura o presente, já que a cultura contemporânea é marcada principalmente tecnologias digitais, resultado da evolução da cultura moderna. Refere-se também ao estudo de vários fenômenos sociais associados à internet e ainda a outras novas formas de comunicação em rede, como as comunidades online, jogos de multi-usuários, jogos sociais, mídias sociais, realidade aumentada, mensagens de texto e inclui as questões relacionadas à identidade, privacidade e formação de rede. A cibercultura também se faz presente na educação por meio de múltiplas linguagens, múltiplos canais de comunicação e em temporalidades distintas.
 
[2] Já listaram onze legados científicos de Leonardo da Vinci que está morto há mais de cinco séculos. De suas obras estão entre as pinturas mais conhecidas da humanidade a Mona Lisa que é atração no Museu do Louvre em Paris e A Última Ceia, um afresco estampado na parede de uma Igreja de Milão. Da Vinci foi anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poeta, músico, cientista, matemático, engenheiro, inventor e polímata. Da Vinci foi o primeiro a compreender o funcionamento do nervo olfativo e identificando-o como um nervo craniano. E determinou a forma e tamanhos gerais de ventrículos cerebrais, por exemplo. Também foi o primeiro a notar a importância fenômeno de mecânica dos fluídos. Também esboçou equipamentos voadores, um paraquedas e dois tipos diferentes de planadores. O professor de cirurgia cardiotorácica da Universidade de Cambridge, e o médico cardiologista Francis C. Wells reconhece os desenhos anatômicos de Da Vinci como sendo pioneiros a demonstrar com bastante precisão a estrutura e funcionamento do coração humano. Também foi um precursor da ideia de utilizar a energia do solar para o aquecimento e, projetou mecanismo em que a luz do sol seria concentrada por meio de espelhos côncavos de modo a aquecer diretamente um reservatório de água. Assim precocemente manifestou preocupação ambiental.  Bem antes do cientista francês Guillaume Amontons, veio Da Vinci esboçar as leis do atrito. E concluiu que o italiano estudou o fenômeno físico por pelo menos duas décadas. Aliás, já em 1493 Da Vinci já havia traçado as linhas gerais do atrito. A reinvenção da roda feita por Da Vinci fez que ampliasse sua utilidade. Foi o primeiro a conceber os rolamentos, a partir da descoberta de que o atrito seria reduzido se as rodas não se tocassem em uma estrutura. Mais tarde, após a Revolução Industrial é que foram os rolamentos incorporados ao cotidiano da humanidade. Foi precursor dos robôs, criando engenhocas movidas a corda que são consideradas precursoras de robôs. E, criou um leão mecânico que dava vários passos e abria automaticamente o peito, exibindo flores. Da Vinci fez ainda cálculos e estimativas vislumbrando determinadas proporções da natureza. E, tais regras de repetição, foram confirmadas por cientistas em 2013 na Universidade do Arizona concluíram que tinha razão, após analisarem cinco espécies diferentes de árvores. Apesar de pacifista, Da Vinci projetou artefatos bélicos e equipamentos que poderiam ser usados para ataque e defesa, desde pontes móveis, armamentos sofisticados até um veículo com uma carapaça gigante, precursor dos atuais tanques de guerra.
 
[3] Inteligência artificial ou artificial intelligence ou simplesmente A.I em inglês é ramo de pesquisa da Ciência da Computação que se ocupa em desenvolver mecanismos e dispositivos tecnológicos que possam simular o raciocínio humano, isto é, a inteligência que ainda uma das características dos seres humanos. Do ponto de vista cognitivo, outra grande ambição das pesquisas envolvendo tecnologias de inteligência artificial é a possibilidade de fazer com que a criatividade, emoções e sentimentos humanos possam também ser reproduzidos pelas máquinas. A união de várias tecnologias é necessária para o desenvolvimento da inteligência artificial, com destaque para três fatores importantes: máquinas com grande potência de processamento; modelos de dados otimizados (capazes de analisar e processar informações de modo inteligente); constante quantidade de informações para alimentar os modelos.
 
[4] A pronúncia é “uaifai” trata-se de marca registrada da Wi-Fi Alliance. É utilizada por produtos certificados que pertencem à classe de dispositivos de rede local sem fios (WLAN) baseados no padrão IEEE 802.11. O nome, para muitos, sugere que se deriva de uma abreviação de wireless fidelity, ou "fidelidade sem fio", mas não passa de uma brincadeira com o termo Hi-Fi (high fidelity), designado para qualificar aparelhos de som com áudio mais confiável, que é usado desde a década de 1950.
 
[5] Bluetooth é uma especificação de rede sem fio de âmbito pessoal, consideradas do tipo PAN ou mesmo
WPAN. Provê uma maneira de conectar e trocar informações entre dispositivos tais como telefones celulares, notebooks, computadores, impressores, câmeras digitais e consoles de videogames digitais através de uma frequência de rádio de curto alcance globalmente licenciada e segura.  Bluetooth é um protocolo padrão de comunicação primariamente projetado para baixo consumo de energia com baixo alcance, (dependendo da potência: 1 metro, 10 metros, 100 metros) baseado em microchips transmissores de baixo custo em cada dispositivo.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 25/03/2020
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