"O conhecimento é o mais potente dos afetos: somente ele é capaz de induzir o ser humano a modificar sua realidade." Friedrich Nietzsche (1844?1900).
 

Professora Gisele Leite

Diálogos jurídicos & poéticos

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Considerações filosóficas sobre o tempo
 
Resumo: O texto didaticamente explica as diversas definições e concepções a respeito do tempo ao longo da história da filosofia ocidental.
Palavras-chave: Filosofia. Tempo. Definição. Ontologia. Filosofia Moderna. Filosofia Contemporânea.
 
Pode-se distinguir três concepções fundamentais sobre o tempo: como ordem mensurável do movimento; como estrutura de possibilidades.
 
A primeira concepção relaciona-se a Antiguidade, o conceito cíclico do mundo e da vida. E, na era moderna, o conceito científico do tempo se formou. Já noutra concepção, vincula-se o tempo ao conceito de consciência; já em terceira concepção deriva da filosofia existencialista e traz algumas inovações na análise do tempo.
 
Sem dúvida, o tempo é uma das categorias fundamentais do pensamento filosófico, juntamente com o espaço que é considerado um dos elementos constitutivos do real e de nossa forma de experimentá-lo.
 
Os pitagóricos[1] concebiam o tempo como a esfera que abrange tudo (a esfera celeste) relacionaram-no com o céu, que com seu movimento ordenado permite mensura perfeitamente[2].
 
John Wheeler com bastante propriedade definiu, in litteris: "O tempo veste um traje diferente para cada papel que desempenha em nosso pensamento".
 
Não se pretende resgatar a íntegra evolução histórica-filosófica do conceito de tempo, mas, é preciso discutir o surgimento das diversas concepções sobre o tempo, considerando seus contextos históricos, filosóficos e sociais, o que seria fundamental caso fosse esse um trabalho voltado à história da física.
 
Platão ao definir o tempo o tinha como a imagem móvel da eternidade, e pretendeu dizer que, na forma dos períodos planetários do ciclo constante das estações ou das gerações vivas e qualquer espécie de mudança, o filósofo reproduz no movimento a imutabilidade do ser eterno.
 
A concepção platônica do tempo é encontrada na obra “Timeu”, onde apresentou sua cosmogonia. Eis que jaz uma contraposição entre aquilo que nunca se transforma e sempre "é", e o que pode ser apreendido pela razão e inteligência e, as coisas que sempre mudam e nunca "são", e a respeito das quais temos apenas mero conhecimento temporário e imperfeito, ou seja, opinião. Nessa primeira categoria estaria Deus e as ideias.
 
Conclui-se que Deus platônico está, portanto, fora do tempo. É eterno, não tendo passado, presente e nem futuro. Isso devido a ser perfeito. Deus não pode mudar. Mas, ao colocar "ordem" no caos (kosmos é a palavra grega para ordem), utilizando a obra platônica os quatro "elementos fundamentais" (água, terra, fogo e ar), Deus criou o universo e o tempo.
 
Sendo o tempo uma espécie de imagem móbil da eternidade, fazendo a ligação entre o universo criado (sujeito à mudança) e seu modelo.
 
Enquanto que o espaço, na obra “Timeu”, é a base de toda matéria e, uma estrutura que existe por si, o tempo seria uma característica da ordem visível das coisas, tendo sido criado junto com o universo e o movimento.
 
Segundo Platão, as próprias revoluções da esfera celeste produziam efetivamente o tempo. E, o ponto culminante a destacar na visão platônica do tempo, é a forma com a qual o filósofo associa a ideia de tempo à ideia de mudança, enquanto que a eternidade é atemporal e bem caracterizada pela imutabilidade.
 
Platão ao definir o tempo[3] o tinha como imagem móvel da eternidade e, pretendeu afirmar que, na forma dos períodos planetários do ciclo constante das estações ou das gerações vivas e qualquer espécie mudança, ele reproduz no movimento a imutabilidade do ser eterno.
 
Platão ao procurar estabelecer a distinção entre o “ser” e o “não ser”. O mundo do ser é fundamental e não está sujeito a mutações. Este é, portanto, eternamente o mesmo. Este mundo, entretanto, é o mundo das ideias, apreensível apenas pela inteligência e, pode ser entendido utilizando-se a razão. O mundo do “não ser” faz parte as sensações, que são irracionais, porque dependem essencialmente de cada pessoa. Para Platão este mundo é irreal.
 
O domínio do tempo estaria nesse segundo mundo, assim como tudo o que se observa no universo físico, tendo assim uma importância menor. Talvez possa ser dito que para Platão o tempo essencialmente não existe, uma vez que faz parte do mundo das sensações. Já a filosofia oriental parece ter sustentado que o tempo, bem como o espaço, são construções da mente humana.
 
Já para Aristóteles[4], o tempo é o número do movimento segundo o “antes” e o “depois”.
 
Apesar de muito influenciada por Platão, a concepção de Aristóteles do tempo é diferente em diversos aspectos. Pois se, o tempo e o movimento se encontram intimamente relacionados, não podem ser identificados um com o outro. Não existe tempo, se não há movimento (entendido mais amplamente como mudança). Porém, o movimento pode sofrer variações, cessar, ser uniforme ou não, mas o próprio tempo não varia.
 
Por ser regular e eterno, o movimento da esfera celeste é privilegiado, estabelecendo a medida perfeita desse tempo (mas não produz o tempo, como na visão platônica). Mas, se o movimento dos céus marca o tempo, e este também marca os demais movimentos, de modo que há uma dependência recíproca.
 
Para Aristóteles, se nada mudasse (em nossas mentes) não teríamos consciência do tempo. Essa consciência viria justamente pela percepção do antes e do depois na mudança, daí que o filósofo compreenda que o tempo como número do movimento com relação o "antes" e o "depois".
 
O tempo não existe sem o espírito que é o responsável por fixar a sua medida. Enquanto que o movimento pode existir fora da alma, o "número do movimento" (que é o tempo) só pode existir quando há uma alma que numere, um ser que realize essa numeração. Sem o espírito, o tempo em si não existiria, mas apenas o movimento (que é seu substrato), sem aspecto mensurável.
 
É subjacente à tal visão, a característica marcante do cosmos aristotélico, o privilégio do espaço, do movimento e da matéria, em relação ao tempo. Esse última ainda aparece como um coadjuvante na descrição dos movimentos.
 
Aristóteles também afirmou que o tempo[5] é contínuo e infinito. É contínuo porque está ocupado por um movimento contínuo. E o movimento, por sua vez, é contínuo porque se desenvolve através de um espaço contínuo. Dessa forma, a ideia de continuidade relaciona-se com o espaço, com o movimento, e, em terceiro lugar, com o tempo.
 
No que tange a esse, podemos distinguir um antes e um depois, ou seja, dois “agoras” com um intervalo contínuo entre estes. Esses dois “agoras” não seriam as menores partes do tempo, segundo Aristóteles, pois o intervalo contínuo entre estes pode ser potencialmente dividido ao infinito.
 
Do mesmo modo que não existe uma linha mínima (os pontos não seriam as menores partes de uma linha) não existe um tempo mínimo.
 
O tempo, para Aristóteles[6], é infinito em dois sentidos, a saber; do ponto de vista da adição, pois não pode esgotar-se por nenhuma adição de partes, e do ponto de vista da divisão, ou seja, é divisível ad infinitum.
 
Quanto ao primeiro aspecto, não haveria uma existência simultânea de todo o infinito temporal, uma vez que cada parte desaparece, embora não deixe de haver outras. E, no que se refere ao segundo aspecto, sua divisão infinita é apenas potencial, mas não real, e vincula-se à noção de continuidade discutida acima.
 
O tempo não existe como um todo dado infinito, pois não está na natureza de suas partes coexistir, mas diferente da extensão, o tempo é potencialmente infinito desde o ponto de vista da adição. O tempo, como extensão, é infinitamente divisível, mas não infinitamente dividido.
 
E não é diferente a definição de estoicos[7] segundo o qual o tempo é o intervalo do movimento cósmico. Em verdade, o tempo não passa de ritmo, ordem, movimento cósmico.
 
Os cristãos introduziram a crença em acontecimentos únicos, como por exemplo, a crucificação e ressureição de Cristo. E, tais fenômenos não se repetem. Também o apocalipse descreve um fim de um mundo, indicando assim que haverá o encerramento de um ciclo que não se repetirá jamais.
 
Plotino foi um representante e também um dos fundadores do chamado neoplatonismo, que foi um movimento do ressurgimento das ideias de Platão no início da era cristão. Plotino é considerado o último dos grandes filósofos da Antiguidade.
 
Frise-se que não era cristão e sua filosofia considerava o mundo material como um receptáculo para as formas ideais impostas pela alma do mundo.
 
A alma do mundo, por sua vez, seria a responsável pelo constante devir e pelas transformações do mundo que, separado do "um" (princípio divino de tudo o que existe) insere-se na temporalidade.
 
As contínuas transformações representam a busca do universo pelo retorno ao eterno, ao um. Estar no tempo é estar afastado deste princípio original, uno e indivisível.
 
Percebe-se que Plotino opõe-se à visão aristotélica do tempo como o número do movimento com relação ao antes e depois e, também no que se refere à necessidade de um espírito que o meça. Para Plotino, o tempo mede o movimento no sentido de ser a medida da duração na qual esse movimento ocorre.
 
Nesse sentido, todo movimento acontece no tempo. Assim, Plotino parece atribuir uma objetividade maior ao tempo, uma realidade para além de sua medida. E afirmou, in litteris: "Não é necessário que se meça para que exista; tudo tem a sua duração, mesmo que essa duração não seja medida".
 
Para Plotino que muito influenciou Santo Agostinho[8] e outros teólogos cristãos posteriores, há três tempos, a saber: o presente atual, que na verdade já pertence ao passado, o presente do passado que se chama memória e o presente do futuro, apenas imaginado por nossa esperança ou nosso medo.
 
Para Epicuro, o tempo é uma propriedade, um acompanhamento do movimento. Na Idade Média, essa concepção do tempo foi compartilhada por realistas (Alberto Magno, Tomás de Aquino) e por nominalistas (Ockham[9]) que repetiam unanimemente a definição de Aristóteles.
 
Telésio que criticava essa definição reduziu o tempo à duração e ao intervalo do movimento. Hobbes definiu o tempo como imagem do movimento porquanto imaginamos o movimento o antes e o depois, ou seja, a sucessão; e considerava que essa definição estava, de acordo com a de Aristóteles.
 
Hobbes[10] definiu o tempo como imagem do movimento, porquanto imaginamos o movimento o antes e o depois, ou seja, a sucessão, e considerava que essa definição estava de acordo com a de Aristóteles.
 
O teólogo Tomás de Aquino representou uma figura importante na conciliação da cosmologia aristotélico-ptolomaica[11] com as teses da Igreja, ocorrida durante a Idade Média.
 
Embora seja levado a abandonar certas concepções aristotélicas (como a ideia de que o universo e o movimento sempre existiram, em flagrante conflito com as escrituras), ele também associa o movimento e, seguindo Aristóteles, defende que o antes e o depois no movimento é que constituem a sucessão temporal.
 
Com Santo Agostinho que o filósofo compartilhou a noção de que o tempo foi criado junto com o universo. O próprio tempo, bem como as coisas neste criadas, tiveram o seu início quando Deus assim o determinou.
 
A tentativa de conciliação entre um Deus eterno, a criação do mundo e do tempo, e a concepção aristotélica do tempo e do movimento dos astros levou São Tomás a defender a existência de três tipos de tempo: o dos corpos e fenômenos terrestres (uma sucessão com o começo e fim definidos) e, a eternidade atemporal (prerrogativa de Deus apenas), o tempo dos anjos, dos corpos celestes e das ideias (com início, mas sem fim).
 
A fusão do aristotelismo com a visão cristão, no que se refere ao tempo, fica mais expressiva nesta passagem da obra “Compêndio de Teologia” em que São Tomás, após afirmar a existência, a imobilidade e a eternidade de Deus, afirmou in litteris:
      "De quanto expusemos até aqui evidencia-se que não há um Deus qualquer sucessão temporal, senão que Deus existe totalmente e simultaneamente.

A sucessão temporal ocorre exclusivamente nas coisas que de um modo ou de outro estão sujeitas ao movimento, de vez que são o antes e o depois no movimento que constituem a sucessão temporal. Ora, Deus não está em absoluto sujeito ao movimento (...). Donde se infere que não há n´Ele qualquer sucessão de tempo".

 
 
 
 
[1] Parmênides (530 - 460 a.C.) defendia o ponto de vista de que todas as transformações que observamos no mundo físico resultam da nossa percepção, isto é, de um processo mental. Estas, de fato, não ocorreriam. A realidade para Parmênides seria ao mesmo tempo indivisível e destituída do conceito de tempo. 
Um dos discípulos de Parmênides, Zenon de Eleia (505 -? a.C.), apresentou alguns paradoxos sobre o tempo, dos quais o mais famoso é aquele do corredor Aquiles e da tartaruga.
Esses paradoxos tinham a intenção de questionar o conceito de tempo. No caso de Aquiles e a tartaruga, Zenon procura provar que o movimento é impossível se o tempo puder ser subdividido indefinidamente em intervalos cada vez menores. 
O paradoxo consiste no seguinte: o corredor Aquiles persegue uma tartaruga.  Os dois iniciam o movimento num determinado instante de tempo. Para cada distância percorrida pelo corredor a tartaruga avançaria certa distância.
Por exemplo, quando o corredor atingisse o ponto do qual a tartaruga partiu esta já estaria a uma outra distância.
Quando o corredor atingisse essa distância a tartaruga estaria numa outra posição. E assim por diante. Não seria, pois, possível ao corredor alcançar a tartaruga. Este paradoxo tem solução!
 
[2] A Escola Pitagórica, fundada por Pitágoras, foi uma influente corrente da filosofia grega, pertencendo a ela alguns dos mais antigos filósofos pré-socráticos. Temistocléia foi a mestre de Pitágoras; ela era alta profetisa, filósofa e matemática. Outros pensadores importantes dessa escola: Filolau, Arquitas, Alcmeão; a matemática e física Teano, que foi, possivelmente, casada com Pitágoras, a filósofa Melissa. 
Esses pensadores manifestam ao mesmo tempo tendências místico-religiosas e tendências científico-racionais. A influência estende-se até nossos dias. 
A sua vez, a matemática influenciou sua posição filosófica concebendo que os números são os princípios de todas as coisas. Aristóteles afirma na Metafísica:  os denominados pitagóricos captaram por vez primeiro as matemáticas e, além de desenvolvê-las, educados por elas, acreditaram que os princípios delas eram os princípios de todas as coisas.
Como os números eram, por natureza, os princípios delas [...] e apareciam os números como primeiros em toda a natureza, pensaram que os elementos dos números eram os elementos de todas as coisas.
Com relação à metafísica, Zeller afirma que a característica distintiva dos pitagóricos é a afirmação de que o número é a essência de todas as coisas e que toda coisa é, na sua essência, número. Para a epistemologia pitagórica, o fragmento 4 de Filolau, DK44B4, é frequentemente citado, pois nele Filolau afirma que “todas as coisas que podemos conhecer contêm número".
 
[3] Platão argumentou que o tempo (chronos) é a imagem móvel da eternidade (aión) movida segundo o número (Timeu). E, partindo do dualismo entre o mundo inteligível e o mundo sensível, concebeu o tempo como uma aparência mutável e perecível de uma essência imutável e imperecível (eternidade). 
Enquanto que o tempo (chronos) é a esfera tangível e móvel, móbil. Já a eternidade é a esfera intangível e imóbil. Sendo, portanto, uma ordem mensurável em movimento, o tempo está em permanente alteridade.

E, seu domínio é caracterizado pelo devir contínuo dos fenômenos em ininterrupta mudança. Posto que o tempo (chrónos) é uma imagem, ele não passa de uma imitação (mímesis) da eternidade (aión). Ou seja, o tempo é uma cópia imperfeita de um modelo perfeito – eternidade. Isso significa que o tempo é uma mera sombra da eternidade. Considerando que somente a região imaterial das formas puras existe em si e por si, podemos dizer que o tempo platônico é uma ilusão. Ele é real apenas na medida em que participa do ser da eternidade. (In: BRAGUE, R. O Tempo em Platão e Aristóteles. São Paulo: Loyola, 2006).
 
[4] São vários - como é bem sabido - os problemas que Aristóteles levanta ao longo do seu tratado do tempo, composto pelos últimos capítulos do livro IV da Física. Segundo é seu hábito metódico, começa logo no início do capítulo - o primeiro - por perguntar se o tempo existe (ei esti) e, se sim, qual a sua natureza (ti esti).
E tanto mais preciso perguntar pela sua existência quanto é certo que, em primeiro lugar, ele é composto por um passado que «já não é» e por um futuro que «ainda não é», o presente sendo um «limite» e como tal «não compondo» propriamente o tempo.
E em segundo lugar o instante, que divide o passado e o futuro, e que apesar de não ser parte do tempo é, no entanto, a sua grande realidade, é tal que não pode nem se conservar como «um e o mesmo» nem ser «sempre novo».

No primeiro caso, com efeito, não haveria diferença entre dois instantes e «os acontecimentos de há dez mil anos coexistiriam com os de hoje» e, no segundo, não haveria identidade e não poderia haver entre eles «passagem», para o dizermos desta forma mais simples que a usada aqui pelo Filósofo.
Constituído por partes que já ou ainda nada são e por instantes que, para além de inextensos, são uma autêntica aporia porque nem podem ser diferentes nem reduzir-se a um só, o tempo é bem um problema e até algo que mais parece um não-ser do que um ser, algo portanto que mais parece não poder existir.
 
[5] Constituído por partes que já ou ainda nada são e por instantes que, para além de inextensos, são uma autêntica aporia porque nem podem ser diferentes nem reduzir-se a um só, o tempo é bem um problema e até algo que mais parece um não-ser do que um ser, algo portanto que mais parece não poder existir.
 
[6] Só que, mesmo assim, o tempo existe. Nós falamos constantemente nele. Embora aqui não o diga expressamente, Aristóteles parte sempre, com efeito, da linguagem como primeira aproximação para o tratamento das questões.
Esse é um traço permanente do seu método, a um tempo ingénuo e rigoroso: ingénuo porque vai atrás de tudo o que se diz, mas rigoroso porque, dessa forma, nada do que é real - e por isso nomeado pelos homens - lhe poderá escapar, ficando assim apto a ser submetido às necessárias precisões.  
Aliás, esta é mesmo uma tradição generalizada. Antes da contemporânea valorização  da linguagem, houve, por exemplo, a «definição dos nomes» na Escolástica e a  análise da palavra Ser em Parménides: a força decorrente da «revelação da deusa» -  bem como a invocação da «justiça» e da «necessidade» - não são senão, com efeito,  a tradução da evidência de que, se «ser» significa que «é», então ele não pode  ter de nenhum modo «buracos», quer internamente (será uno) quer em relação ao antes e depois (será eterno) quer mesmo em relação ao movimento local (será imóvel). 
É por isso que Aristóteles, mais adiante, se deterá a examinar um conjunto de expressões correntes do tempo, cotejando-as com a sua doutrina: «agora mesmo» (nun), «um dia» (pote), «imediatamente» (êdê), «recentemente» (arti), «de repente» (eksaiphnês). Há, pois, tempo.
 
[7] Outros pensadores, os estoicos, acreditavam que sempre que os planetas voltassem à sua posição original, a qual seria o início do tempo cósmico, o Universo recomeçaria de novo. Muitas e muitas vezes, portanto.  Os estoicos eram filósofos seguidores da doutrina chamada estoicismo que é caracterizada pela consideração do problema moral, e que tinha como ideal atingir a felicidade suprema pelo estado de alma em equilíbrio e moderação na escolha entre os prazeres sensíveis e os espirituais.
São representantes ilustres dos estoicos os gregos Zenão de Cicio (340-264 a.C.) e Cleanto (séc. III a.C), e os romanos Epicteto e Marco Aurélio (121-180).  Os Maias da América Central acreditavam igualmente num tempo cíclico.
A história se repetiria depois de um período de 260 anos, o lamat dos Maias.  A ideia de um tempo linear, sem retornos, parece ter sido defendida apenas pelos hebreus e os persas zoroastras. Essa filosofia foi incorporada pelos cristãos.
 
[8] O referido filósofo cristão, Santo Agostinho, divagou sobre o conceito do tempo nos seguintes termos: "ouvi dizer a um homem instruído que o tempo não é mais do que o movimento do Sol, da Lua e dos astros. Não concordei!!! Porque não seria antes o movimento de todos os corpos? 
Se os astros parassem e continuasse a mover-se a roda do oleiro, deixaria de haver tempo para medirmos as suas voltas?
Não poderíamos dizer que estes se realizam em espaços iguais, ou, se a roda umas vezes se movessem mais devagar, outras depressa, não poderíamos afirmar que umas voltas demoravam mais, outras menos?''.
 
[9] Guilherme de Ockham (Occam) frade franciscano e filósofo escolástico inglês, nasceu em 1280 ou 1288, um pequeno povoado de Surrey, perto de East Horsley na Grã-Bretanha, e faleceu em 9 de abril de 1347 ou 1349, em Munique, na Alemanha, vitimado pela peste negra.
Foi o último grande nome da filosofia medieval e o primeiro filósofo que encarna o que se poderia chamar de espírito do século XIV.
E, levando o pensamento de Duns Scotus às últimas consequências, Ockham acentuou a separação entre a filosofia e a teologia, entre a razão e a fé, no momento em que se anunciam as primeiras descobertas da ciência moderna. Quanto ao conhecimento intuitivo, este dá a evidência imediata, assegurando a verdade e a realidade das proposições.  
Só a intuição prova a existência das coisas, ponto de partida do conhecimento experimental, que, generalizando o particular, chega ao universal, à lei. É a experiência que permite conhecer as causas das coisas....
 
[10] Thomas Hobbes (1588-1679) foi matemático, teórico político e filósofo inglês, autor de Leviatã, Do Cidadão. Na obra Leviatã, explanou os seus pontos de vista sobre a natureza humana e sobre a necessidade de um governo e de uma sociedade fortes.
Para Hobbes todo o conhecimento vem dos sentidos, A paixão é mais forte que a vontade.
Na moral e na política, essa teoria dá no seguinte: os súditos do Estado são extremamente individualistas e só se reúnem em comunidade porque esse é o melhor meio de sobreviver.
Essa semi-guerra é analisada no Leviatã. Leviatã, no livro de Jó, na Bíblia é o monstro que governa o caos primitivo. Para Hobbes, o Estado é o Grande Leviatã, o deus imortal que se sobrepõe ao indivíduo e o absorve, embora tenha sido criado para servi-lo.
 
[11] Ptolomeu foi cosmofísico grego que formulou sua visão de cosmologia fundamentada na filosofia de Aristóteles, que viveu no século IV a.C. Construiu ainda um sistema que serviu de fundamento a Cosmologia até o desenvolvimento da Física de Copérnico e Galileu. 
Neste modelo, algumas órbitas tinham formato espiralado (como a linha descrita por uma mola espiral de caderno, imaginando-a sobre um plano). Isto é inaceitável hoje, pois exigiria a atuação de uma força, dirigida para o centro da espiral, para manter um corpo celeste restrito a este tipo de movimento. Ptolomeu é um aristotélico.
O sistema Ptolomaico foi um construto cosmológico que pretendeu justificar a Terra como o centro do Universo partindo das complicadas e imbricadas teses aristotélicas.

Tal cosmologia durou séculos e só encontrou forte resistência nos séculos XV, XVI e XVII quando as descobertas científicas novas inviabilizaram totalmente a visão geocêntrica das cosmologias dedutivas antigas.


CONTINUA ...
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 20/02/2020
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