Seus olhos eram de um azul profundo.
Rogava aos céus para naufragar naquele azul.
Entender, ouvir e acalentar todas suas carências e medos.
Suas mãos polares traduziam um frio duro
e disseminavam um arrepio que percorria toda a alma.
Em silêncio, confidenciávamos pecados mortais,
paradoxos banais e a intensa dor de existir.
No fundo de todo seu naufrágio,
eu via o abandono fossilizado em seu rosto e
gravado em sua caligrafia sofrível.
Nunca cogitamos sobre amor e nem afeto.
Mas, nossos corpos eram cúmplices e patéticos
Pulavam do atrito até a osmose.
Um dia inesperado, chegou a hora de partir.
Do adeus inexorável.
Sabíamos que nem o espaço e o tempo nos entendiam.
Apenas nos divorciavam.
E, a ponte que unia nossas almas não se nutria
de meias verdades, meias palaras e, estando sem meias
com pés desnudos e sem raízes enficadas na terra,
Flanávamos livres em pleno furacão dos românticos.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 23/01/2020