Deve haver um motivo para a tristeza:
Autopiedade
Se sentir inócuo, iníquo e
insuficiente para a dinâmica mundana.
Para a semântica de essências
Num silabar sonoro
Um nada, um menos que nada
uma coisa nenhuma.
Ter emburrecido.
Ter esquecido
Ter aloprado
Ter sido insano.
Quando se esperava atento.
Ter sido modesto
Quando se esperava o exagero.
Ter sido hipócrita
Quando se esperava apenas ser
verdadeiro ou natural.
Nascemos iguais.
Somos feitos de matéria equivalente.
Moléculas, ossos, músculos e sangue.
E, por razões sólidas.
Vivemos num planeta hídrico.
Imerso num multiverso enorme e
desconhecido.
Talvez o átomo tenha traído o fóton.
Talvez o meteoro tenha traído o cometa.
Talvez o abismo tenha traído a certeza.
De que tudo é finito.
Ou de que tudo seja infinito e eterno.
Mas há a mágica da palavra.
A sedução da rima.
O encantar do lirismo inconsciente
Que relaciona tudo com tudo
e faz do contexto um enorme
crochet enigmático
E autoexplicável.
Deve haver um motivo para tristeza:
ser poeta num mundo frio.