Tudo em nosso país surgiu e se desenvolveu de forma estapafúrdia... Assim se deu com a Chegada da Família Real (e seus piolhos) em 1808, depois mais tarde, com a Proclamação da República pelo jovem e epiléptico Imperador português, e não foi diferente, com a proclamação da República, por um velho marechal francamente monarquista em 1889.
E, com o súbito advento da República brasileira passamos a ter nova forma de organização política, bem como uma nova concepção de Estado e quiçá de sociedade.
Progressivamente intensificou-se a presença do Estado na vida social brasileira e, o clímax desse processo se deu com a Revolução de 1930 e a consequente ascensão de Getúlio Vargas, que permaneceu no poder por uma década e meia.
Mas, lembremos que a inserção dominadora do Estado e de caráter intervencionista gerou muita resistência tanto que se pode identificá-la nas Revoltas da República Velha. Entre estas, a Revolta da Vacina que ocorreu no Rio de Janeiro entre os dias 10 a 16 de novembro de 1904.
Na época, o RJ era a vigente (e segunda) capital do país e, os índices populacionais avassaladores. o que traduziu uma organização urbana bastante precarizada, com péssimas condições de higiene e habitabilidade, tanto que a cidade estava abarrotada de cortiços o que facitou em muito a proliferação de doenças infectocontagiosas (malária, varíola, febre amarela e peste bubônica).
A reforma urbanística do Rio de Janeiro foi inspirada nas reformas urbanísticas parisienses, dentro do contexto Belle Epoque. Especialmente seu centro, dando lugar a avenidas largas, praças, edifícios e novas ruas.
O então prefeito da cidade que era também engenheiro, era Pereira Passos, e, com o apoio do Presidente da República da época, Rodrigues Alves, promoveu em 1903 uma radical reforma urbana na cidade maravilhosa.
A tal reforma tinha orientação sanitarista e se preocupava com o controle de prolefieração de doenças transmitidas por mosquitos, pulgas, carrapatos, ratos, besouros e, outros insetos.
E, o sanitarismo da época guiava-se pelas teorias do médico francês Louis Pasteur, fundador do chamado higienismo e, teve no Brasil o seu maior seguidor, que era o médico Oswaldo Cruz que foi responsável em aprovar as medidas reformadoras implementadas pelo então Prefeito da cidade do Rio de Janeiro.
Entre tais medidas, estavam a remoção de cortiços, que visavam objetivos bem além do meramente arquitetônico, estético ou urbanístico e, sim, preocupava-se com a viabilidade sanitária e, também com o adequado tratamento de água e esgoto.
Mesmo com as mais radicais medidas, nem todas patologias infectocontagiosas foram extirpadas pela reforma empreendida, pois a mais mortífera persistia que era a varíola.
E, a única forma eficaz de erradicar os casos de varíola era a vacinação. Mas, era um método não muito aceito na época. Moralmente censurava-se que mesmo senhoras idosas deveriam expor os ombros e braços para a vacinação.
Pois, nem todos os médicos da época, eram adeptos do higienismo e, acusavam a vacinação de produzir a morte de muitos vacinados. E, entre tantas divergências, houve agitação nas camadas mais populares da cidade.
E, a rejeição à vacinação acabou por gerar a vacinação obrigatória, ocorrida em 1904. A revolta motivada pelos que não concordavam com a vacinação pois não aceitavam que o Estado pudesse obrigar as pessoas a vacinarem-se. A insatisfação era ainda mais apimentada pelo problema social provocado com remoção de cortiços e moradias populares.
Mas, apesar de muita confusão e barulho, a campanha prosseguiu nos anos seguintes e, finalmente, obteve sucesso. E, o discurso sanitarista na medicina vencera praticamente em todo mundo.
Como se pode deduzir, os insetos são as mais confiáveis testemunhas da história do Brasil. Desde os piolhos trazidos pela família real como o atual aedes aegypti que provoca dengue, zika e chikungunya.