Deixem-me só...
Aqui na companhia das estrelas
e da noite funda e intensa.
Deixem-me só...
Preciso desse momento.
Para sorver a realidade.
Para decifrar palavras e almas.
Para atingir afetos, afeições e
até desamores.
Consolidando ciclos e paradoxos.
Desatando os nós
e fazendo nexos.
Preciso da noite.
Dos orvalhos adormecidos
Das mágoas apagadiças,
do rimel borrado traçando
no rosto uma caligrafia
qualquer.
Deixem-me só.
Porque, em verdade,
não estou só.
Existem milhões de insetos,
átomos
e sentimentos vívidos e
incrustados em cada respiração,
na palpitação cardíaca,
na dor no olho.
Na inexatidão exata
da medida humana.
Nem é a imagem que me lembra
o que preciso enxergar
Preciso mergulhar no infinito
diário...
dos fins dos dias,
do fim de cada existência,
do fim de cada resistência,
para amanhã, quando alvorecer
restabelecer magicamente de novo,
toda a fantasia
de persistir mais um dia,
e, um dia que vem
atrás do outro.
Na dinâmica repetida
e ímpar.
Até que enfim,
então haverá o último dia...
Mas, nunca o último afeto.