O cenário contemporâneo é de ampliação de formas de produção e consumo audiovisual e, apesar da TV já esteja consolidada dentro do modelo tecnológico de transmissão de sinal, o que chamamos de "cultura das séries" é resultante dessas novas dinâmicas de expectadores em torno das séries de televisão, notadamente, as norte-americanas.
Trata-se de um fenômeno complexo que se fulcram em três condições centrais, nas últimas décadas, para promover as séries seja dentro ou fora dos modelos tradicionais de televisão.
A forma está ligada aos novos parâmetros de narrativa, quanto à permanência e, mesmo, a reconfiguração de modelos clássicos, relacionados aos gêneros estabelecidos tais como a sitcom, o melodrama e o policial.
A segunda condição está ligada ao contexto tecnológico, particularmente, o digital e da internet que tanto impulsionou a circulação de séries em nível global, para além do circuito tradicional da televisão.
A terceira condição se refere ao consumo, seja pela dimensão tomada pelo espectador, bem como de comunidaedes de fãs e ainda as estratégias de engajamento, bem como na criação de espaços de notícias e críticas, vinculados em grandes jornais e revistas.
Tais condições buscam perfazer o movimento cultural mais amplo, trazendo particularidades dos contextos narrados e, ainda, trazendo ciosos debates teóricos sobre temas que naufragam em nossa atualidade.
A sofisticação do texto e dos personagens é um dos motivos relevantes artisticamente, e o ponto crucial seria mesmo o roteiro, que é capaz de fugir dos clichês e de formas de narrativas já consagradas e até saturadas.
Em geral, o escritor e produtor é quem garante a unidade e harmonia de sentido do programa, seja pela supervisão do processamento dos episódios, seja pelo estabelecimento de certo padrão de encenação que garante a replicação.
O surgimento dos seriados acaba por definir o momento de transformação do panorama televisivo nos anos 1980. E, com a quebra de hegemonia das três maiores redes televisivas, deu-se a progressiva e fatídica inserção da TV a cabo nos domicílios, ocorrendo também a mudança no paradigma publicitário, que passa a reconhecer tais programas, não somente como obras transversais que deviam interesse ao um crescente número de espectadores, mas sim, como obras específicas, endereçadas e direcionadas a certos públicos, dotado de suas próprias características e, principalmente, de interesses de consumo.
É bom apontar que os seriados de televisão repousa na reptição, no retorno de personagens, de temas e situações, bem como na redundância de diálogos e da banda sonora com a imagem, mas também, nos mecanismos de narrativa baseado na reiteração. E, a grande diferença em comparação à ficção literária ou cinematográfica, é, porque esta substituiu o conto e o mito no imaginário popular.
A cultura das séries é o resultado da intensa atuação desses vetores, definindo-se como um cenário cultural singular com suas próprias e específicas dinâmicas de produção, circulação e consumo.
Apesar de se circunscrever a um universo audiovisual, sobretudo estrangeiro (e mais especificamente norte-americano), é fundamental aqui no Brasil que voltemos a atenção para essas dinâmicas, visto que elas estão presentes nas práticas culturais de inúmeras pessoas, influenciando novos roteiristas e diretores, tornando-se referência para nossos próprios programas.
Por isso mesmo, identificamos essas três condições centrais para o estudo da cultura das séries, que podem e devem ser discutidas e ampliadas em ulteriores debates teóricos e estudos de caso, possa ajudar no entendimento do fenômeno.