Eu tinha inveja do suor
que percorria seu corpo
em silêncio
Eu tinha inveja do cansaço
que caia sobre
você, impiedoso.
Frontal em incêndio.
Suas roupas guardavam
seu cheiro
Sua letra guardava
em sua caligrafia
um capricho
ou talvez lirismos.
E seus sapatos ainda novos
e que marchavam
mesmo que
sem os seus passos.
Mas conheciam seus caminhos
e descaminhos.
Sua índole guerreira.
De espada invisível
De escudo imaginário.
Sua voz reta
de fonemas perfeitos
e esculpidos no silêncio
de seus olhos.
Semânticas bailavam
ao seu redor.
Rodopiavam feito
dançarinos persas de sama.
Suas mãos mágicas
que com didática e doçura
explicavam o
inexplicável.
E me fazia ter esperanças.
Num futuro distante.
Em promessas tolas
e românticas.
Acreditar em arco-iris
E na igualdade inatingível.
Lá fora a chuva fina
molha delicadamente
porém, definitivamente
Pois não secava
A umidade penetrava n'alma
Pensamentos hídricos
Afogavam-se em dialéticas
Não secaram as lágrimas.
Não fecharam as feridas
Não clareiaram os hematomas.
O roxo virava violeta.
E, a violeta desbrochava
em liláses.
Pois tudo é contundência.
Pois tudo é sacrifício.
Sobreviver é limar-se
continuamente...
Em dor.
Em flor.
Em amor.
Em odor.
vindo das entranhas,
vindo da terra,
vindo dos céus,
ou da poesia bastarda
que brota instantaneamente
sem muito pretender.
Apenas passar.
Apenas cruzar o
mar abstrato
para cair na
gramática dura e concreta.
Ei-la.
Sem dó e nem piedade.
Ou seria, sem piedade e
nem dó?
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 10/11/2019